Simpósios Temáticos

Simpósios Temáticos


30 de setembro

ST - Historiografia, espaço de memória e usos do passado 
Auditório B do CCHLA - 14h às 18h
Coordenadores: Margarida Maria Dias de Oliveira (UFRN)
   Francisco das Chagas Fernandes Santiago Júnior (UFRN)
   Aryana Lima Costa (UERN)

Obs.: De acordo com a coordenação do ST, os autores terão 10 minutos cada um para apresentarem os problemas e fontes que norteam/ram os trabalhos.

UMA CARTA SOBRE AS MODIFICAÇÕES NO ESPAÇO: O olhar da educadora Chicuta Nolasco sobre o edifício do Orfanato Padre João Maria e da Casa de Detenção de Natal (1952)

Autor: Jefferson Melo da Silva

Resumo: O presente resumo tem por finalidade expor, em linhas gerais, a pesquisa sobre o espaço do antigo Orfanato Padre João Maria e da antiga Casa de Detenção de Natal, tomando como instrumento de análise a carta da educadora Francisca Nolasco Fernandes (Chicuta Nolasco) 1908 - 1995, a qual foi destinada à Madre Superiora do Orfanato e veiculada pela imprensa do Diário de Natal, na edição do dia 8 de Novembro de 1952. A pesquisa aqui apresentada é o recorte de um estudo mais amplo sobre a instituição e objetiva apresentar as percepções da educadora mediante as modificações espaciais, vislumbradas a partir de uma visita realizada na então Casa de Detenção de Natal, a partir da qual a mesma expõe em seus escritos as relações entre os sujeitos e o espaço, comparando suas utilizações. A metodologia da análise documental atrelada a uma dimensão qualitativa de interpretação do discurso me permitiu conceber um panorama do que havia sido a instituição do Orfanato e o que Dona Chicuta estava por descortinar com suas palavras sobre a Casa de Detenção. O estudo possibilita a ampliação da difusão histórica das instituições da cidade do Natal, assim também como reforça a necessidade de observarmos os trajetos do tempo a partir das mudanças sociais e de seus espaços.

 

Representações da infância no Núcleo de Educação da Infância da UFRN (NEI/CAp/UFRN): 1979-2006

Autora: Thábata Araújo de Alvarenga

Resumo: Essa pesquisa objetiva investigar as representações da infância produzidas no Núcleo de Educação da Infância (NEI-CAp-UFRN), aqui compreendido como espaço no qual se tece uma memória viva acerca da educação da infância, desde a data de sua fundação (1979) até o ano de 2006, momento em que a instituição recebia crianças de 0 a 6 anos de idade. Pesquisaremos uma documentação de caráter administrativo com a finalidade de desvendar a forma pela qual se travou, no âmbito acadêmico, o debate acerca da viabilidade da proposta da criação da instituição no momento que antecedeu a sua institucionalização, verificando em que medida o NEI tomou parte do movimento de luta por creches como direito da família, da mulher e da criança. Verificaremos também, a partir da leitura dos documentos do arquivo escolar e dos testemunhos dos professores, quais representações de infância constituíram a prática pedagógica do NEI, determinando a infância e a vivência cotidiana das crianças que ali estudaram. Pretendemos descortinar, a partir da análise de tal documentação, em que medida o NEI guarda em sua prática pedagógica a memória dos dilemas fundamentais que marcam a história das instituições de educação infantil no Brasil: família e instituição, educação e assistência, puericultura e higiene, jogos e brincadeiras, desenvolvimento, cognição e recreação. Além disso, pretendemos verificar, a partir da análise da documentação das atividades extensionistas promovidas pela instituição, quais práticas pedagógicas e concepções de educação da infância irradiam no Estado do Rio Grande do Norte e em que medida o NEI se configura como centro irradiador de uma dada representação de infância no Estado. Em nosso trabalho de pesquisa os testemunhos dos professores serão tomados mediante abordagem metodológica extraída da história oral. As imagens serão compreendidas como representações iconográficas, uma vez que foram historicamente construídas. Além disso nossas fontes, sejam elas orais, iconográficas ou escritas, serão compreendidas como “documento-monumento”, “produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de força que aí detinham o poder”. Acreditamos que as questões relativas à história da educação, à história da infância e suas intimas relações com a memória coletiva e individual, vão nos ajudar a compreender que em fins do século XX e inícios do século XXI certas formas de pensar a criança., a infância e a educação são representações historicamente construídas.

 

PRODUZINDO LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA: PRESCRIÇÕES E PRÁTICAS (ANÁLISE DO ESPAÇO DIDÁTICO-EDITORIAL BRASILEIRO ENTRE AS DÉCADAS DE 1990-2010)

Autor: Jandson Bernardo Soares

Resumo: O livro didático é um dos elementos que compõem o espaço escolar brasileiro e que, por sua vez, faz parte do cotidiano de milhões de brasileiros e brasileiras. O mesmo se configura enquanto uma ferramenta de ensino, na medida em que se direciona o trabalho com ações didáticas; instrumento de formação continuada, tendo em vista seu papel de atualizar os professores a respeito das transformações nas áreas de ensino e pesquisa; constituidor de práticas educacionais, uma vez que sugere formas de trabalhar e estudar determinado conteúdo escolar. Todas essas dimensões fazem do livro didático um objeto de interesse disputado por vários setores da sociedade civil (Estado, autores, editores, pesquisadores, movimentos sociais, entre outros). Nesse sentido, essa pesquisa tem como fim analisar como tem sido disputado o conceito de livro didático entre duas instancias: os autores desses materiais, representados pela Associação Brasileira de Livros Educacionais (Abrale), e o Estado brasileiro que, por meio do Programa Nacional do Livro Didático, delimita critérios de qualidade para os livros a serem adquiridos e distribuídos a rede pública de ensino. Para realizar essa investigação optou-se por estudar três categorias de documento: os editais de avaliação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), representando a voz oficial do Estado; os documentos produzidos pela Associação Brasileira de Livros Educacionais e, por fim, os livros didáticos de História aprovados e mais adquiridos pelo PNLD do Ensino fundamental - anos finais - nas décadas de 2000 e 2010. Esses documentos serão analisados através da perspectiva da História dos Conceitos proposta por Reinhart Koselleck. Essa metodologia de análise permite aproximar-se das diversas tipologias de fontes elencadas em perspectiva comparada, possibilitando visualizar onde as concepções de livro didático se tocam ou entram em choque a partir de seu contexto sócio-histórico. Essa análise propiciará pensar como as prescrições constituídas por meio do PNLD não são unilaterais, mas resultam de disputas marcadas por táticas e estratégias, compreendidas aqui a luz de Michel de Certeau, como práticas do fazer, assim como são utilizadas no momento de transformação de tais critérios em livros didáticos propriamente ditos, operando entre o espaço escolar e o didático-editorial.

 

SELVAGENS, BÁRBAROS E PRIMITIVOS: REPRESENTAÇÕES SOBRE OS INDÍGENAS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE (1952-1987)

Autor: Flademir Gonçalves Dantas

Resumo: No início do século XXI, de acordo com dados oficiais, apenas o Rio Grande do Norte, Piauí e Distrito Federal não possuíam comunidades indígenas reconhecidas. Curiosamente, somos um dos únicos estados do Brasil que tem como gentílico o etnônimo potiguar aos naturais do Rio Grande do Norte. Entrementes, o esquecimento dos indígenas na História do Rio Grande do Norte, que só aparecem na narrativa como resultado de uma descoberta do europeu no período colonial, quase que exclusivamente nos momentos iniciais de sua chegada, no choque, no encontro entre culturas que se formaram, marcados de um lado pela belicosidade, quando dificultaram o início da colonização, e de outro como cordiais e amigáveis, ao ajudarem os conquistadores na sua instalação. Os livros didáticos também contribuíram na construção de estereótipos e preconceitos acerca dos indígenas que habitam(ram) o espaço potiguar. O presente artigo analisa as representações - a luz do teórico Roger Chartier - dos povos indígenas nos livros didáticos de História do Rio Grande do Norte no período de 1952, a partir da obra História e Geografia do Rio Grande do Norte de Clementino Câmara, até o ano de 1987, no livro Estudos Sociais: Rio Grande do Norte, das autoras, Raimunda Almeida e Maria das Neves Gurgel de Oliveira Castro.

 

QUANDO AS SOMBRAS ASCENDEM: PERSPECTIVAS HISTORIOGRÁFICAS SOBRE A CENA BLACK METAL NORUEGUESA (DÉCADAS DE 1990 A 2000)

Autor: João Guilherme Santos de Araújo Lopes

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar um balanço historiográfico acerca dos estudos sobre a cena Black Metal norueguesa, tendo um recorte temporal que permeia a década de 1990 até meados dos anos 2000, a qual tornou-se uma espacialidade responsável por boa parte dos pilares influenciadores deste subgênero do Heavy Metal. Outrora marcada no âmbito musical e comportamental, bem como pela produção artística baseada no satanismo e outras vertentes ditas transgressoras, mas que, em determinado momento, acabam encontrando na natureza e nos usos do passado um novo viés exploratório lírico e imagético, acarretando numa leva de discursos repletos de saudosismos, nacionalismo e antimodernidade. Tal trabalho partiu do pressuposto que a cena Black Metal norueguesa no período estudado se configura – além dos mais influentes dentre os variados subgêneros da musicalidade e cultura Heavy Metal – em um espaço com dimensões próprias, com suas próprias sociabilidades e (re)leituras materiais e simbólicas, como justificação de determinadas visões e contradições por aqueles que a comungavam.

 

NEGOCIAÇÕES E EMBATES ENTRE O MOVIMENTO NEGRO E O ESTADO BRASILEIRO: O PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO EM ANÁLISE

Autor: Jefferson Pereira da Silva

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar os resultados obtidos durante a pesquisa desenvolvida por nós junto ao Programa de Pós-Graduação em História da UFRN entre os anos de 2017 e 2019. Tal investigação buscou analisar as disputas, embates e negociações travados pelo Movimento Negro e o Estado brasileiro no que diz respeito ao ensino da história e cultura da África e dos afro-brasileiros a partir do PNLD entre 1995 e 2014. Para isso, foram utilizadas três conjuntos de fontes: a) relatórios das Conferências Nacionais de Promoção da Igualdade Racial e os manifestos elaborados durante a Marcha Zumbi dos Palmares contra o Racismo pela Cidadania e a Vida e a Marcha Zumbi +10; b) relatórios de gestão da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão; e c) os editais do PNLD. As inferências realizadas em tal documentação partiram da análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin, metodologia que permitiu a observação dos argumentos utilizados com fundamentos quantitativos e qualitativos. Ao término do trabalho, foi possível constatar que o PNLD buscou dar cumprimento ao exigido pelas políticas públicas e, consequente, às demandas colocadas pelo Movimento Negro, principalmente, na qualificação dos conceitos e termos utilizados, na indicação direta da legislação específica que se refere a uma educação antirracista no Brasil, bem como na permanência do peso que as diretrizes contra preconceitos e formas de discriminação possuíam no quadro geral dos editais.

 

O patrimônio em cena: Discursos políticos no processo de patrimonialização do sítio histórico de Sobral-CE (1995-2018)

Autor: Edcarlos da Silva Araújo

Resumo: Este trabalho tem por objetivo discutir como o processo de patrimonialização do sítio histórico da cidade de Sobral, no Ceará, é construído e justificado para expressar a ideia de relevância nacional da história da cidade de Sobral e como ao mesmo tempo a efetivação do tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) ocorrido em agosto de 1999, se torna um elemento de validação desse discurso. Amparado pelos estudos sobre história e sua relação com os espaços, memória e o patrimônio cultural nossa fundamentação teórica se baseia em François Hartog, Aleida Assman, Maria Cecília Londres Fonseca, Néstor Gárcia Canclini, Françoise Choay e Romeu Duarte Júnior. A metodologia de investigação se dá pela análise documental das leis locais sobre o patrimônio, do Estudo de Tombamento Federal (1997), e publicações locais de divulgação do patrimônio histórico. Este trabalho ainda se encontra em fase de desenvolvimento, mas ainda assim, é possível vislumbrar possíveis resultados na pesquisa. Os documentos vistos até agora expressam e ratificam uma ideia construída pela elite sobralense, que ampara a história da cidade sob uma memória heráldica. A partir da importância do desenvolvimento socioeconômico de Sobral desde o período colonial, para toda a região norte do Estado, que atualmente pode ser comprovada através dos exemplares materiais espalhados por todo o centro da cidade, ao passo que são testemunhas de pedra de tal passado. Assim, se justifica o tombamento, com a proposta de preservar para as gerações futuras a história da cidade de Sobral, entendida como um documento representativo dos processos de ocupação e evolução urbana do sertão nordestino. E ao mesmo tempo que esta é a justificava elaborada para o tombamento, ela também é o elemento de validação desse discurso, marcando um processo de formação da identidade do ser sobralense atrelado ao patrimônio.

 

A NAÇÃO NO PENSAMENTO CINEMATOGRÁFICO BRASILEIRO (1920-1950)

Autora: Gabriela Alves Monteiro

Resumo: O artigo discute as representações da nação no pensamento cinematográfico brasileiro durante a primeira metade do século XX. Entendemos que o tema mobilizou grande parte dos “homens de cinema”, principalmente a partir dos anos 1920, onde vemos se estruturar as primeiras campanhas em prol do cinema nacional. Tendo em mente que essas representações se polemizam entre si, tomamos como referência para a análise as interpretações criadas pela crítica cinematográfica da época através de artigos publicados nas revistas Para Todos, A Scena Muda e Cinearte. Espaço de troca de ideias e experiências entre cineastas, críticos e entusiastas, essas revistas desempenharam um papel importante na difusão de ideias sobre cinema, construindo uma espécie de “consciência cinematográfica” no país. Consciência que pode ser traduzida na busca de uma “autonomia” e na tentativa de compreender o papel social, cultural e político do cinema. Além disso, utilizaremos as Palestras radiofônicas sobre cinema, do cineasta Humberto Mauro. Assim, serão analisados os argumentos sustentados por diferentes sujeitos que, através de abordagens diversas, buscaram expressar um modo próprio de interpretação da realidade nacional.

 

Movimentos Socioeducativos do Rio Grande do Norte: Um Estudo das Lutas Emancipatórias de 1960 e das ações repressivas de 1964

Autora: Roselia Cristina de Oliveira

Resumo: Este trabalho apresenta um recorte da nossa pesquisa de Doutorado que busca compreender e analisar os Movimentos Sócioeducacionais atuantes no Rio Grande do Norte, nos anos 1960. Entender suas práticas e as ideias circulantes, assim como foram identificados pelos organismos repressores após o golpe civil-militar de 1964. Para o alcance desse objetivo, estamos realizando pesquisas nos arquivos da Delegacia de Ordem Política e Social - DOPS, nos Relatórios da Comissão da Verdade e nos editoriais dos jornais da época, analisando as informações, buscando indícios que evidenciem articulações e possíveis colaborações entre o governo do Rio Grande do Norte e a Agência de Inteligência Civil – CIA de 1960-1964, e como esta articulação interferiu nas atividades dos movimentos sociais. Consideramos o histórico de lutas do Movimento de Cultura Popular, do Centro de Cultura Popular, do Movimento de Educação de Base, da Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler, da Secretaria de Educação do RN e a Experiência de 40 horas de Angicos, das Ligas Camponesas e dos Movimentos Estudantis locais, bem como o contexto de efervescência política e cultural, acirrada pela polarização da Guerra Fria e das mobilizações sociais e suas consequências. Nesse sentido, compreendemos os movimentos sociais como projetos mobilizadores identificados pela luta contra o analfabetismo e por melhores condições de vida. Essa luta insere-se naquilo que Wright (1981) denomina de interesses imediatos de classe, ou conjunturais, segundo Gramsci (1978). Assim, os Movimentos socioeducacionais de 1960 elegem a educação e a cultura como partes substanciais de suas propostas, promovendo ações de conscientização e emancipação. Escolhemos a Década de 1960, por apresentar um contexto de polarização e inaugurar este período com a formação dos movimentos sociais uma concepção emancipadora, que busca transformar a ordem social.

 

MEMÓRIA E SILENCIAMENTO: O PATRIMÔNIO CEARENSE NAS POLÍTICAS PRESERVACIONAISTAS NACIONAIS (1913-1956)

Autor: Pedro Henrique da Silva Paes

Resumo: No intuito de conceituar patrimônio, buscaremos refletir este como espaço de conflito. Nesse sentido, procuraremos problematizar o início das políticas de preservação do patrimônio estruturadas sistematicamente a partir de instituições de memória criadas no primeiro governo Vargas (1930-1945) ressaltando as disputas intelectuais entre projetos identitários divergentes ligados ao patrimônio. Deste modo, neste momento identificamos a querela entre Gustavo Barroso, diretor do Museu Histórico Nacional (MHN) ente 1922 e 1959 e da Inspetoria de Monumentos Nacionais entre 1934 e 1937, e os intelectuais modernistas que se mantiveram na figura de Rodrigo Melo Franco de Andrade na direção do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) entre 1937 a 1967. Deste debate intelectual sobre as concepções e práticas de preservação do patrimônio brasileiro, a cultura material do Ceará vai ser paulatinamente visibilizada a partir do realce dado por Gustavo Barroso deste espaço de memória na imprensa carioca, dos processos de tombamentos realizados entre 1941 e 1954 pelo SPHAN e por outros instrumentos de preservação do patrimônio nacional. Nesse Sentido, entenderemos aqui O Ceará como espaço imagético-discursivo elaborado a partir de uma cartografia da paisagem patrimonial cearense entre 1934 a 1959 pelos sujeitos que se localizavam institucionalmente no MHN e no SPHAN.

 

José Eduardo Agualusa, Mário Pinto de Andrade e Gilberto Freyre nas disputas pela identidade em Angola

Autor: Arthur Fernandes da Costa Duarte

Resumo: O presente trabalho busca analisar as relações entre a produção literária contemporânea do escritor José Eduardo Agualusa (Huambo, Angola, 1960-) e a história da nação angolana, principalmente durante o fim do período de dominação colonial portuguesa e a luta pela libertação, e as ideias de nação e identidade formuladas por Mário Pinto de Andrade (Golungo Alto, Angola, 1928 - Londres, 1990), intelectual angolano e um dos principais nomes da luta de libertação e Gilberto Freyre (Recife, 1900-1987), intelectual brasileiro e importante nome para a história do império colonial português e a formulação do conceito de lusotropicalismo. A partir da análise da produção literária de José Eduardo Agualusa, sobretudo seu romance Estação das Chuvas, publicado em 1996 e que trata da luta, sobretudo intelectual, de libertação em Angola, e dos esforços tanto de Pinto de Andrade quanto de Freyre, o trabalho versa sobre a relação de produção de uma identidade nacional angolana, pautada em diferentes matizes de pensamento e ideologia, e as formas que essas identidades foram construídas e disputadas ao longo da história angolana.

ST - A colonização em Movimento: nativos, colonos e reinóis na expansão do Império (América portuguesa, séc. XVI - XIX)
Auditório D do CCHLA - 14h às 18h
Coordenadores: Carmen Margarida Oliveira Alveal (UFRN)
   Thiago Alves Dias (UFRN)

Obs.: De acordo com a coordenação do ST, os autores terão 10 minutos cada um para apresentarem as fundamentações teórico-metodológicas e resultados parciais ou finais.


Pedro de Valdívia e a produção imagética de uma terra de guerra no sul do Novo Mundo (XVI)

Autor: Erick Matheus Bezerra Mendonça Rodrigues

Resumo: O seguinte trabalho se debruça sobre a trajetória de Pedro de Valdívia, conquistador e líder da hoste indiana responsável pela primeira investida contra a região denominada de Nueva Extremadura ou Chile. Nessa sucinta análise, investigamos o conjunto de cartas escritas por Valdívia entre 1545 e 1553, ano de sua morte em batalha, capturado por índios mapuches. O objetivo é entender como Pedro de Valdívia produziu, em seus escritos, uma imagem dos espaços que se dedicara a conquistar. Seguindo um costume já constatado em outros conquistadores, tal qual Fernando Cortês, Pedro de Valdívia encaminhou extensa documentação para seus superiores. Desses documentos, destacamos dois: cartas para os vice-reis do Peru e para Carlos V. As seguintes correspondências são permeadas por diversos temas, mas destacam-se os pedidos por mercês e a narrativa da conquista e dominação. É exatamente a narrativa que nos interessa de forma mais enfática. Procuramos perceber como Valdívia dá formas, através da narrativa, o espaço que, concomitantemente, está a conquistar. Buscamos destacar, principalmente, as imagens desse espaço como "tierra de guerra" e entender como a criação dessa visão sobre o Chile na primeira década de conquista pelos espanhóis estava conectada com as ambições, necessidades e expectativas dos seus conquistadores.

 

O ATLÂNTICO SUL E A GUERRA BRAÍLICA COMO FATOR DE INFLUÊNCIA NA CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO TERRITORIAL BRASILEIRO NO SÉCULO XVII

Autor: Tarcísio Bezerra de Lima Júnior

Resumo: As investidas francesas e holandesas à costa sul atlântica da colônia ibérica no decorrer do século XVII incitaram o despertar na sociedade luso-brasílica residente sobre um sentido de pertencimento local e, especificamente, como um espaço ou território em construção a proteger. Em especial a Guerra Brasílica (ou Guerra do Açúcar) foi o ápice da complexa trama de interesses comerciais, especulação, investimento, invasões territoriais e guerras no Atlântico Sul desse período. As guerras de resistência contra tais invasores europeus no decorrer do século XVII propuseram uma série de alianças entre os povos nativos, negros, brasílicos e lusitanos bem como entre as instituições como igreja, donatários, senhores de engenho e a Coroa. Tais contramedidas arregimentaram a deslocação e ocupações de outros espaços no interior do continente que acabaram por desenhar o território geopolítico brasileiro ao buscar intersecções entre os diversos espaços no interior da colônia luso americana. Desenvolveu-se a expansão ora metalista ora de captura de povos nativos e escravos fugidos ou mesmo de reconquista territorial dos espaços do Brasil Colônia no século XVII. O artigo objetiva compreender a questão bélico neerlandesa como um mecanismo de tais condicionantes expansionistas ao desbravar os espaços internos da colônia no intuito de fixarem focos de resistência ou de embates diretos e assim construir, em rede, o desenho territorial brasileiro a partir destas espacialidades. A metodologia compõe-se de revisão bibliográfica do tema e o uso de fontes de pesquisas como documentos e relatos de cronistas e historiadores do período.

 

JURISDIÇÕES E MUDANÇAS DE SUBORDINAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO DA CAPITANIA DO RIO GRANDE (1695-1705)

Autor: Tyego Franklim da Silva

Resumo: O ano de 1701 foi marcado por duas grandes mudanças na administração da capitania do Rio Grande: a primeira delas foi o fim do mandato do capitão-mor Bernardo Vieira de Melo, o que mudaria as relações entre o governo da capitania e os oficiais do Terço dos Paulistas; a segunda foi a mudança da subordinação administrativa do Rio Grande, que deixara de ser vinculada diretamente ao Governo Geral, na Bahia, e passara a responder ao governador da capitania de Pernambuco. Antes disso, a capitania do Rio Grande já vivenciava uma situação de certa vinculação econômica, política e militar com relação à Pernambuco, a quem recorria em caso de necessidades. Este trabalho tem por objetivo analisar o processo de mudança de subordinação da capitania do Rio Grande no ano de 1701 e suas consequências no processo de territorialização da capitania em um contexto de aplicação políticas de defesa, retorno das concessões de sesmarias nos sertões e das ações dos oficiais do Terço dos Paulistas. Para tanto, serão analisados documentos oficiais da administração colonial e régia, correspondências entre as autoridades e cartas de doação de sesmarias. O aporte teórico embasa-se, principalmente, nos conceitos de jurisdição, centro e periferia, relevantes para se compreender o processo de mudança de subordinação e da nova configuração jurisdicional que a capitania do Rio Grande passou a incorporar como uma das capitanias anexas a Pernambuco. Como recortes temporais, considerar-se-á o início do governo do capitão-mor Bernardo Vieira de Melo (1696) e o final do mandato de seu sucessor, Antonio de Carvalho e Almeida (1705), período em que ocorre a mudança administrativa e percebe-se maior intensidade de correspondência tratando do assunto entre as autoridades coloniais.

 

“A capitania de Pernambuco se não deve haver por perdida para a Coroa deste Reino”: notas sobre o estatuto político das capitanias de Pernambuco e Itamaracá durante a segunda metade do século XVII

Autor: Marcos Arthur Viana da Fonseca

Resumo:  A invasão de tropas neerlandesas promovida pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, em 1630, desorganizou a administração das Capitanias do Norte. As antigas instituições foram transformadas pelos anos subsequente de guerras e pela necessidade de adaptação administrativa aos novos tempos. Dentre estas modificações é possível destacar o estatuto das duas donatarias que constituíam o norte do Estado do Brasil, Pernambuco e Itamaracá. Doadas como donatarias na década de 1530 para as famílias Albuquerque Coelho e a família Sousa, as capitanias de Pernambuco e Itamaracá foram incorporadas ao patrimônio régio após a expulsão dos holandeses, em 1654. Os donatários, no entanto, sentiram-se lesados por este ato, considerado uma apropriação indevida e quebra dos capítulos estabelecidos pela doação real, e ingressaram na justiça promovendo uma querela judicial contra a Coroa. Portanto, este trabalho pretende lançar algumas observações e hipóteses sobre o estatuto político destas duas capitanias enquanto territórios incorporados ao patrimônio da Coroa, mas sob demanda judicial.

 

Governança local, autoridades régias: a Câmara do Natal e suas relações de poder nas Capitanias do Norte (1701-1759)

Autor: Kleyson Bruno Chaves Barbosa

Resumo: As Capitanias do Norte correspondiam a uma circunscrição político-espacial, que englobava as capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba, Rio Grande e Ceará, tendo por eixo de centralidade a capitania de Pernambuco. Essa proeminência de Pernambuco foi gestada ao longo do tempo, especialmente, após o período holandês, quando a influência e o grau de interferência dos gestores de Pernambuco passam a ser crescentes em diversos aspectos nestas outras capitanias, que foram sendo anexadas à capitania de Pernambuco, entre 1656-1755. Adentrando o século XVIII, este trabalho procura pensar as relações jurisdicionais, e, portanto, espaciais, entre diversas instâncias e autoridades das Capitanias do Norte, entretanto, partindo prioritariamente do ponto de vista de uma localidade periférica, a partir da Câmara localizada na cidade do Natal, capitania do Rio Grande. Para isso, foram analisadas, quantificadas e tipificadas as documentações presentes nos livros de registro de cartas e provisões do Senado da Câmara do Natal, entre 1701-1759, no intuito de se entender quais eram os principais interlocutores (emissários, intermediários e destinatários) desta governança local no conjunto de autoridades régias das Capitanias do Norte, e, por conseguinte, qual o impacto e a influência desta configuração de poderes para a própria governação do poder local e para a atuação destas autoridades régias.

 

Hierarquias espaciais nas Capitanias do Norte

Autor: Leonardo Paiva de Oliveira

Resumo: A sociedade portuguesa do Antigo Regime era marcada por um grande processo de hierarquização social. Essa estrutura de desigualdades não se limitava apenas na representação das pessoas, ela estava presente em diversos campos, sendo o espaço, de uma forma geral, um deles. Ao se pensar na estrutura administrativa da gestão dos territórios que o reino de Portugal era responsável, é necessário ter em mente que essa gestão era baseada em um componente hierarquizador, dotando seus espaços com valores desiguais de acordo com uma série de elementos responsáveis por essa valoração. Tendo isso em vista, essa comunicação tem como objetivo discutir as diferentes formas de percepção espacial na sociedade de Antigo Regime ibérico, apontando o reconhecimento das desigualdades entre os territórios como um elemento base da visão de mundo das pessoas daquela época e dando destaque às dinâmicas hierarquizadoras das capitanias do Norte entre os séculos XVII e XVIII.

 

Uma escrita em construção: análise sobre o sertão do Piancó num contexto de transformação em seu território jurisdicional (Capitania da Paraíba, segunda metade do século XVIII)

Autora: Larissa Daniele Monteiro Lacerda

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar a proposta de pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História da UFRN, na Linha de Pesquisa I (Formação, Institucionalização e Apropriação dos Espaços), cujo propósito é analisar a dinâmica sociopolítica do sertão do Piancó, no interior da Paraíba, durante a criação e organização administrativa de seu novo território jurisdicional, a Vila de Pombal, na segunda metade do século XVIII. Acreditamos que em um contexto de anexação da Capitania da Paraíba, políticas pombalinas e a criação do primeiro Senado da Câmara no sertão (1772), a dinâmica do Piancó, governado até então por um juiz ordinário e um capitão-mor, nomeados pelo Governador da Paraíba, tenha se transformado consideravelmente, uma vez que os conflitos jurisdicionais e as disputas de poder se intensificaram. O caso desse sertão demonstra a plasticidade da organização político-administrativa da Coroa portuguesa em suas diferentes fases sociopolíticas. Ancoramo-nos no uso de fontes oficiais e seriais (Arquivo Histórico Ultramarino, Livros de Notas, Atas da Câmara, Inventários e Livros de Batismo), e tomamos por referencial teórico os trabalhos de Antônio Manuel Hespanha e Ana Cristina Nogueira da Silva, a fim de pensar a categoria Território Jurisdicional. Já por metodologia, faremos uso da prosopografia, que, ao analisar o perfil e as ações de determinados grupos, nos auxiliará a entender o funcionamento do mundo social e a configuração das instituições do sertão do Piancó.


ST - História dos Espaços, Práticas, Teorias e Historiografias
Auditório A do CCHLA - 14h às 18h
Coordenadores: Renato Amado Peixoto (UFRN)
   Magno Francisco de Jesus Santos (UFRN)

História e Espaço na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte em 1903-1904

Autora: Patrícia da Silva Azevedo

Resumo: Essa comunicação visa ensaiar uma discussão a respeito dos textos publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN. Para a realização desse estudo realizamos a análise de quatro volumes da revista do IHGRN que circulam na sociedade potiguar, e junto as instituições congêneres, a partir dos anos de 1903 e 1904. A investigação parte do princípio de que a produção realizada pelo IHGRN é considerada como a primeira fase da historiografia potiguar, e nesse sentido, esse estudo procura analisar as condições de produção desse periódico, os textos publicados, afim traçar um perfil das temáticas mais citadas, os recortes temporais e espaciais adotados, e os autores que publicavam nesses primeiros anos de circulação do periódico. A circulação da revista é uma estratégia importante na efetivação do plano da escrita de uma história estadual, representando o IHGRN, os seus membros e os seus interesses, dessa forma, o periódico passou a alcançar parte da sociedade e propor uma diálogo com os pares, consequentemente, legitimando o IHGRN como lugar de produção da escrita da história potiguar.

 

Topos & Tropos Uma análise hermenêutica sobre a querela historiográfica entre Cortesão e Holanda durante os anos 1950

Autor: Douglas André Gonçalves Cavalheiro

Resumo: A metodologia da meta-história é uma hermenêutica proposta por Hayden White (1973) na qual estabelece um paralelo entre as fundamentações historiográficas com as construções dos tropos literários ou das figuras de linguagens. White fundamentou essa investigação a partir das concepções da imaginação histórica do Século XIX. Associando teóricos da filosofia e da história, White estabelece que a consciência histórica possuísse um estilo de linguagem representativa, na forma metafórica, por exemplo, o historiador Jules Michelet e o filósofo Nietzsche. Em contrapartida, haveria uma forma mais negacionista, na forma irônica, por exemplo, o historiador Burckhardt e o filósofo Croce. Sob essa perspectiva é possível avaliar os debates historiográficos sobre a formação do espaço, topos brasileiro, ocorrido por meio da imprensa carioca durante os anos de 1950. O historiador português Jaime Cortesão se vale de um tropos metafórico para explicar a formação espacial brasileira como uma analogia insular ao conceito geopolítico de “Ilha-brasil”. Em contrapartida, Sérgio Buarque de Holanda forma uma crítica de aspecto irônico ao analisar as buscas dos bandeirantes, causadores da amplificação do território brasileiro, em apenas obter apenas maiores recursos materiais.

 

“Os negros fazem a sua estreia”: A irmandade dos negros do rosário e a construção do espaço sagrado em Jardim do Seridó/RN (1885-1940)

Autora: Aressa Maíra Nascimento Paiva

Resumo: No Brasil, entre os séculos XVI e XVII, surgem as irmandades leigas no Brasil o qual desempenhavam um papel subsidiário ao da Igreja Católica. Nesse contexto, surgem as irmandades negras, relacionadas a distintos oragos, que funcionaram como um espaço político no qual ocorria a integração dos sujeitos irmanados assim como se encarregando do assistencialismo e espiritualidade dos negros É notório que as relações entre o clero e os irmanados,principalmente se fossem negros, nem sempre foram pacíficas, dessa forma nos é sabido que, por diversificadas vezes, os negros foram proibidos de acessar o culto no interior do templo. É nesse contexto que surge a Irmandade de São Sebastião e Nossa Senhora do Rosário, localizada na atual cidade de Jardim do Seridó, em meio a negociações e conflitos, desenvolvendo um campo de tensão que originou uma nova demanda para a Igreja: a possibilidade de os negros do Rosário manifestarem sua fé no interior da Igreja Católica. No entanto, em 1940, o padre Expedito Medeiros proíbe o acesso dos negros, para coroação do rei e rainha do ano, no interior da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Dessa forma, pretendemos analisar -mediante ao conjunto de fontes levantado previamente (como por exemplo, as atas das reuniões entre 1886-1940)- o processo de construção dos espaços sagrados pelos irmãos “negros do Rosário”, na cidade de Jardim do Seridó, entre 1885 a 1940, evidenciando as tensões, conflitos e negociações entre a Irmandade e a Igreja Católica. Como hipótese, pensamos que a relação entre os negros e a Igreja, ao longo do recorte temporal estipulado, foi permeado por conflitos e negociações. Possivelmente, a institucionalização da Irmandade foi um produto de um processo caracterizado pela demanda dos negros, os transformando em sujeitos agentes, e não agenciados pela Igreja Católica. Pensamos também que a manutenção da Irmandade seja resultado de um processo da reforma devocional católica.

 

PEREGRINOS DO DESENVOLVIMENTO CATÓLICO: TRAJETÓRIAS DE MARCOS GUERRA E MICHAEL MURPHY

Autor: Cláudio Correia de Oliveira Neto

Resumo: O presente trabalho visa ensaiar uma discussão como a Igreja Católica nas décadas de 1960 e 1970 produz uma dinâmica espacial que faz com que agentes católicos engajados no processo de desenvolvimento de áreas subdesenvolvidas, em especial o Nordeste brasileiro, circulem internacionalmente disseminando técnicas, ideias e pessoas sobre a visão católica de desenvolvimento. Para tanto escolhemos dois casos para estudo, o de Marcos Guerra e o Michael Murphy. Marcos Guerra em 1965, ajudado por Dom Eugênio Sales, foge para o exílio na França e ganha uma bolsa de estudos para no Institut International de Recherche er de Formation, Education et Développement (IRFED) que tem como objetivo capacitar agentes sociais de áreas subdesenvolvidas para que promovam o desenvolvimento de suas regiões. Michael Murphy é um funcionário da Cáritas estadunidense que vem ao Brasil auxiliar o trabalho de Dom Eugênio Sales, aprender com o Movimento de Natal, e levar o que aprendeu para o Estados Unidos. Estes dois agentes tão diferentes são levados a peregrinar por espaços desenvolvidos e subdesenvolvidos dentro de um roteiro espacial de cooperação católica internacional pró-desenvolvimentista. Para o exame destes casos usaremos os relatos dos dois agentes, o de Marcos Guerra publicado no livro "República Potiguar de Montparnasse – Maio de 68" (2018) , e o de Michael Murph publicado no livro "Dom Eugênio Sales em Natal; Fé e Política"(2015).

 

“REVOLVENDO AS CINZAS DO PASSADO”: A CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO SACROPROFÃNICO NOS SANTUÁRIOS AOS “PROTOMÁRTIRES DO BRASIL”, NO RIO GRANDE DO NORTE (1988-2017)

Autor: Miquéias de Medeiros Bezerra

Resumo: O objeto de pesquisa concerne aos espaços sagrados devotados aos Protomártires do Brasil. Mais especificamente, os três santuários criados em Canguaretama, São Gonçalo do Amarante e Natal, Rio Grande do Norte. Visa-se investigar os elementos recapturados e agenciados pela Igreja, seus fiéis e colaboradores com vista à composição dos santuários, no espaço temporal de 29 anos (1988 a 2017), no qual foi demandado beatificação, canonização de atores e sujeitos que sofreram martírio e a construção de espaços sagrados. Para tal fim, almeja-se analisar e refletir a respeito de que tecnologias de memória foram cooptadas e a quais retóricas na contemporaneidade se pretenderam os santuários? De que forma e com qual intuito os vestígios do passado foram aludidos e aventados publicamente pelos processos de feitura dos santuários? Que tipo de topofilias esses espaços sagrados pretenderam aflorar, disparar ou estabelecer no público apreciador? Um dos principais pressupostos teóricos advém do conceito de hierópolis. Proposto pela geógrafa Zeny Rosendahl, refere-se a centros de convergência religiosa, local de confluência de “uma demonstração de fé que adquire nítida espacialidade, pois envolve o deslocamento de um lugar a outro.“Na organização espacial das hierópolis, no entorno da atividade religiosa encontra-se frequentemente uma atividade econômica: a venda de objetos da devoção do peregrino. Encontram-se também restaurantes, farmácias e comércio de artigos não religiosos. A presença dessas atividades qualifica o espaço profano das cidades-santuário”.Há, portanto, nas hierópolis uma “ritualística sacroprofânica” na qual o sagrado e o profano, apesar de distintos, não se opõem e nem se excluem. Quanto às fontes, soma-se os decretos de reconhecimento dos santuários, os discursos inaugurais, documentos de administração dos espaços, livros de tombos das romarias, relatórios, pareceres e atas da fase diocesana do processo para beatificação e canonização.

01 de outubro

ST - Historiografia, espaço de memória e usos do passado
Auditório B do CCHLA - 14h às 18h
Coordenadores: Margarida Maria Dias de Oliveira (UFRN)
   Francisco das Chagas Fernandes Santiago Júnior (UFRN)
   Aryana Lima Costa (UERN)

UMA CARTA SOBRE AS MODIFICAÇÕES NO ESPAÇO: O olhar da educadora Chicuta Nolasco sobre o edifício do Orfanato Padre João Maria e da Casa de Detenção de Natal (1952)

Autor: Jefferson Melo da Silva

Resumo: O presente resumo tem por finalidade expor, em linhas gerais, a pesquisa sobre o espaço do antigo Orfanato Padre João Maria e da antiga Casa de Detenção de Natal, tomando como instrumento de análise a carta da educadora Francisca Nolasco Fernandes (Chicuta Nolasco) 1908 - 1995, a qual foi destinada à Madre Superiora do Orfanato e veiculada pela imprensa do Diário de Natal, na edição do dia 8 de Novembro de 1952. A pesquisa aqui apresentada é o recorte de um estudo mais amplo sobre a instituição e objetiva apresentar as percepções da educadora mediante as modificações espaciais, vislumbradas a partir de uma visita realizada na então Casa de Detenção de Natal, a partir da qual a mesma expõe em seus escritos as relações entre os sujeitos e o espaço, comparando suas utilizações. A metodologia da análise documental atrelada a uma dimensão qualitativa de interpretação do discurso me permitiu conceber um panorama do que havia sido a instituição do Orfanato e o que Dona Chicuta estava por descortinar com suas palavras sobre a Casa de Detenção. O estudo possibilita a ampliação da difusão histórica das instituições da cidade do Natal, assim também como reforça a necessidade de observarmos os trajetos do tempo a partir das mudanças sociais e de seus espaços.

 

Representações da infância no Núcleo de Educação da Infância da UFRN (NEI/CAp/UFRN): 1979-2006

Autora: Thábata Araújo de Alvarenga

Resumo: Essa pesquisa objetiva investigar as representações da infância produzidas no Núcleo de Educação da Infância (NEI-CAp-UFRN), aqui compreendido como espaço no qual se tece uma memória viva acerca da educação da infância, desde a data de sua fundação (1979) até o ano de 2006, momento em que a instituição recebia crianças de 0 a 6 anos de idade. Pesquisaremos uma documentação de caráter administrativo com a finalidade de desvendar a forma pela qual se travou, no âmbito acadêmico, o debate acerca da viabilidade da proposta da criação da instituição no momento que antecedeu a sua institucionalização, verificando em que medida o NEI tomou parte do movimento de luta por creches como direito da família, da mulher e da criança. Verificaremos também, a partir da leitura dos documentos do arquivo escolar e dos testemunhos dos professores, quais representações de infância constituíram a prática pedagógica do NEI, determinando a infância e a vivência cotidiana das crianças que ali estudaram. Pretendemos descortinar, a partir da análise de tal documentação, em que medida o NEI guarda em sua prática pedagógica a memória dos dilemas fundamentais que marcam a história das instituições de educação infantil no Brasil: família e instituição, educação e assistência, puericultura e higiene, jogos e brincadeiras, desenvolvimento, cognição e recreação. Além disso, pretendemos verificar, a partir da análise da documentação das atividades extensionistas promovidas pela instituição, quais práticas pedagógicas e concepções de educação da infância irradiam no Estado do Rio Grande do Norte e em que medida o NEI se configura como centro irradiador de uma dada representação de infância no Estado. Em nosso trabalho de pesquisa os testemunhos dos professores serão tomados mediante abordagem metodológica extraída da história oral. As imagens serão compreendidas como representações iconográficas, uma vez que foram historicamente construídas. Além disso nossas fontes, sejam elas orais, iconográficas ou escritas, serão compreendidas como “documento-monumento”, “produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de força que aí detinham o poder”. Acreditamos que as questões relativas à história da educação, à história da infância e suas intimas relações com a memória coletiva e individual, vão nos ajudar a compreender que em fins do século XX e inícios do século XXI certas formas de pensar a criança., a infância e a educação são representações historicamente construídas.

 

PRODUZINDO LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA: PRESCRIÇÕES E PRÁTICAS (ANÁLISE DO ESPAÇO DIDÁTICO-EDITORIAL BRASILEIRO ENTRE AS DÉCADAS DE 1990-2010)

Autor: Jandson Bernardo Soares

Resumo: O livro didático é um dos elementos que compõem o espaço escolar brasileiro e que, por sua vez, faz parte do cotidiano de milhões de brasileiros e brasileiras. O mesmo se configura enquanto uma ferramenta de ensino, na medida em que se direciona o trabalho com ações didáticas; instrumento de formação continuada, tendo em vista seu papel de atualizar os professores a respeito das transformações nas áreas de ensino e pesquisa; constituidor de práticas educacionais, uma vez que sugere formas de trabalhar e estudar determinado conteúdo escolar. Todas essas dimensões fazem do livro didático um objeto de interesse disputado por vários setores da sociedade civil (Estado, autores, editores, pesquisadores, movimentos sociais, entre outros). Nesse sentido, essa pesquisa tem como fim analisar como tem sido disputado o conceito de livro didático entre duas instancias: os autores desses materiais, representados pela Associação Brasileira de Livros Educacionais (Abrale), e o Estado brasileiro que, por meio do Programa Nacional do Livro Didático, delimita critérios de qualidade para os livros a serem adquiridos e distribuídos a rede pública de ensino. Para realizar essa investigação optou-se por estudar três categorias de documento: os editais de avaliação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), representando a voz oficial do Estado; os documentos produzidos pela Associação Brasileira de Livros Educacionais e, por fim, os livros didáticos de História aprovados e mais adquiridos pelo PNLD do Ensino fundamental - anos finais - nas décadas de 2000 e 2010. Esses documentos serão analisados através da perspectiva da História dos Conceitos proposta por Reinhart Koselleck. Essa metodologia de análise permite aproximar-se das diversas tipologias de fontes elencadas em perspectiva comparada, possibilitando visualizar onde as concepções de livro didático se tocam ou entram em choque a partir de seu contexto sócio-histórico. Essa análise propiciará pensar como as prescrições constituídas por meio do PNLD não são unilaterais, mas resultam de disputas marcadas por táticas e estratégias, compreendidas aqui a luz de Michel de Certeau, como práticas do fazer, assim como são utilizadas no momento de transformação de tais critérios em livros didáticos propriamente ditos, operando entre o espaço escolar e o didático-editorial.

 

SELVAGENS, BÁRBAROS E PRIMITIVOS: REPRESENTAÇÕES SOBRE OS INDÍGENAS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE (1952-1987)

Autor: Flademir Gonçalves Dantas

Resumo: No início do século XXI, de acordo com dados oficiais, apenas o Rio Grande do Norte, Piauí e Distrito Federal não possuíam comunidades indígenas reconhecidas. Curiosamente, somos um dos únicos estados do Brasil que tem como gentílico o etnônimo potiguar aos naturais do Rio Grande do Norte. Entrementes, o esquecimento dos indígenas na História do Rio Grande do Norte, que só aparecem na narrativa como resultado de uma descoberta do europeu no período colonial, quase que exclusivamente nos momentos iniciais de sua chegada, no choque, no encontro entre culturas que se formaram, marcados de um lado pela belicosidade, quando dificultaram o início da colonização, e de outro como cordiais e amigáveis, ao ajudarem os conquistadores na sua instalação. Os livros didáticos também contribuíram na construção de estereótipos e preconceitos acerca dos indígenas que habitam(ram) o espaço potiguar. O presente artigo analisa as representações - a luz do teórico Roger Chartier - dos povos indígenas nos livros didáticos de História do Rio Grande do Norte no período de 1952, a partir da obra História e Geografia do Rio Grande do Norte de Clementino Câmara, até o ano de 1987, no livro Estudos Sociais: Rio Grande do Norte, das autoras, Raimunda Almeida e Maria das Neves Gurgel de Oliveira Castro.

 

QUANDO AS SOMBRAS ASCENDEM: PERSPECTIVAS HISTORIOGRÁFICAS SOBRE A CENA BLACK METAL NORUEGUESA (DÉCADAS DE 1990 A 2000)

Autor: João Guilherme Santos de Araújo Lopes

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar um balanço historiográfico acerca dos estudos sobre a cena Black Metal norueguesa, tendo um recorte temporal que permeia a década de 1990 até meados dos anos 2000, a qual tornou-se uma espacialidade responsável por boa parte dos pilares influenciadores deste subgênero do Heavy Metal. Outrora marcada no âmbito musical e comportamental, bem como pela produção artística baseada no satanismo e outras vertentes ditas transgressoras, mas que, em determinado momento, acabam encontrando na natureza e nos usos do passado um novo viés exploratório lírico e imagético, acarretando numa leva de discursos repletos de saudosismos, nacionalismo e antimodernidade. Tal trabalho partiu do pressuposto que a cena Black Metal norueguesa no período estudado se configura – além dos mais influentes dentre os variados subgêneros da musicalidade e cultura Heavy Metal – em um espaço com dimensões próprias, com suas próprias sociabilidades e (re)leituras materiais e simbólicas, como justificação de determinadas visões e contradições por aqueles que a comungavam.

 

NEGOCIAÇÕES E EMBATES ENTRE O MOVIMENTO NEGRO E O ESTADO BRASILEIRO: O PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO EM ANÁLISE

Autor: Jefferson Pereira da Silva

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar os resultados obtidos durante a pesquisa desenvolvida por nós junto ao Programa de Pós-Graduação em História da UFRN entre os anos de 2017 e 2019. Tal investigação buscou analisar as disputas, embates e negociações travados pelo Movimento Negro e o Estado brasileiro no que diz respeito ao ensino da história e cultura da África e dos afro-brasileiros a partir do PNLD entre 1995 e 2014. Para isso, foram utilizadas três conjuntos de fontes: a) relatórios das Conferências Nacionais de Promoção da Igualdade Racial e os manifestos elaborados durante a Marcha Zumbi dos Palmares contra o Racismo pela Cidadania e a Vida e a Marcha Zumbi +10; b) relatórios de gestão da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão; e c) os editais do PNLD. As inferências realizadas em tal documentação partiram da análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin, metodologia que permitiu a observação dos argumentos utilizados com fundamentos quantitativos e qualitativos. Ao término do trabalho, foi possível constatar que o PNLD buscou dar cumprimento ao exigido pelas políticas públicas e, consequente, às demandas colocadas pelo Movimento Negro, principalmente, na qualificação dos conceitos e termos utilizados, na indicação direta da legislação específica que se refere a uma educação antirracista no Brasil, bem como na permanência do peso que as diretrizes contra preconceitos e formas de discriminação possuíam no quadro geral dos editais.

 

O patrimônio em cena: Discursos políticos no processo de patrimonialização do sítio histórico de Sobral-CE (1995-2018)

Autor: Edcarlos da Silva Araújo

Resumo: Este trabalho tem por objetivo discutir como o processo de patrimonialização do sítio histórico da cidade de Sobral, no Ceará, é construído e justificado para expressar a ideia de relevância nacional da história da cidade de Sobral e como ao mesmo tempo a efetivação do tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) ocorrido em agosto de 1999, se torna um elemento de validação desse discurso. Amparado pelos estudos sobre história e sua relação com os espaços, memória e o patrimônio cultural nossa fundamentação teórica se baseia em François Hartog, Aleida Assman, Maria Cecília Londres Fonseca, Néstor Gárcia Canclini, Françoise Choay e Romeu Duarte Júnior. A metodologia de investigação se dá pela análise documental das leis locais sobre o patrimônio, do Estudo de Tombamento Federal (1997), e publicações locais de divulgação do patrimônio histórico. Este trabalho ainda se encontra em fase de desenvolvimento, mas ainda assim, é possível vislumbrar possíveis resultados na pesquisa. Os documentos vistos até agora expressam e ratificam uma ideia construída pela elite sobralense, que ampara a história da cidade sob uma memória heráldica. A partir da importância do desenvolvimento socioeconômico de Sobral desde o período colonial, para toda a região norte do Estado, que atualmente pode ser comprovada através dos exemplares materiais espalhados por todo o centro da cidade, ao passo que são testemunhas de pedra de tal passado. Assim, se justifica o tombamento, com a proposta de preservar para as gerações futuras a história da cidade de Sobral, entendida como um documento representativo dos processos de ocupação e evolução urbana do sertão nordestino. E ao mesmo tempo que esta é a justificava elaborada para o tombamento, ela também é o elemento de validação desse discurso, marcando um processo de formação da identidade do ser sobralense atrelado ao patrimônio.

 

A NAÇÃO NO PENSAMENTO CINEMATOGRÁFICO BRASILEIRO (1920-1950)

Autora: Gabriela Alves Monteiro

Resumo: O artigo discute as representações da nação no pensamento cinematográfico brasileiro durante a primeira metade do século XX. Entendemos que o tema mobilizou grande parte dos “homens de cinema”, principalmente a partir dos anos 1920, onde vemos se estruturar as primeiras campanhas em prol do cinema nacional. Tendo em mente que essas representações se polemizam entre si, tomamos como referência para a análise as interpretações criadas pela crítica cinematográfica da época através de artigos publicados nas revistas Para Todos, A Scena Muda e Cinearte. Espaço de troca de ideias e experiências entre cineastas, críticos e entusiastas, essas revistas desempenharam um papel importante na difusão de ideias sobre cinema, construindo uma espécie de “consciência cinematográfica” no país. Consciência que pode ser traduzida na busca de uma “autonomia” e na tentativa de compreender o papel social, cultural e político do cinema. Além disso, utilizaremos as Palestras radiofônicas sobre cinema, do cineasta Humberto Mauro. Assim, serão analisados os argumentos sustentados por diferentes sujeitos que, através de abordagens diversas, buscaram expressar um modo próprio de interpretação da realidade nacional.

 

Movimentos Socioeducativos do Rio Grande do Norte: Um Estudo das Lutas Emancipatórias de 1960 e das ações repressivas de 1964

Autora: Roselia Cristina de Oliveira

Resumo: Este trabalho apresenta um recorte da nossa pesquisa de Doutorado que busca compreender e analisar os Movimentos Sócioeducacionais atuantes no Rio Grande do Norte, nos anos 1960. Entender suas práticas e as ideias circulantes, assim como foram identificados pelos organismos repressores após o golpe civil-militar de 1964. Para o alcance desse objetivo, estamos realizando pesquisas nos arquivos da Delegacia de Ordem Política e Social - DOPS, nos Relatórios da Comissão da Verdade e nos editoriais dos jornais da época, analisando as informações, buscando indícios que evidenciem articulações e possíveis colaborações entre o governo do Rio Grande do Norte e a Agência de Inteligência Civil – CIA de 1960-1964, e como esta articulação interferiu nas atividades dos movimentos sociais. Consideramos o histórico de lutas do Movimento de Cultura Popular, do Centro de Cultura Popular, do Movimento de Educação de Base, da Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler, da Secretaria de Educação do RN e a Experiência de 40 horas de Angicos, das Ligas Camponesas e dos Movimentos Estudantis locais, bem como o contexto de efervescência política e cultural, acirrada pela polarização da Guerra Fria e das mobilizações sociais e suas consequências. Nesse sentido, compreendemos os movimentos sociais como projetos mobilizadores identificados pela luta contra o analfabetismo e por melhores condições de vida. Essa luta insere-se naquilo que Wright (1981) denomina de interesses imediatos de classe, ou conjunturais, segundo Gramsci (1978). Assim, os Movimentos socioeducacionais de 1960 elegem a educação e a cultura como partes substanciais de suas propostas, promovendo ações de conscientização e emancipação. Escolhemos a Década de 1960, por apresentar um contexto de polarização e inaugurar este período com a formação dos movimentos sociais uma concepção emancipadora, que busca transformar a ordem social.

 

MEMÓRIA E SILENCIAMENTO: O PATRIMÔNIO CEARENSE NAS POLÍTICAS PRESERVACIONAISTAS NACIONAIS (1913-1956)

Autor: Pedro Henrique da Silva Paes

Resumo: No intuito de conceituar patrimônio, buscaremos refletir este como espaço de conflito. Nesse sentido, procuraremos problematizar o início das políticas de preservação do patrimônio estruturadas sistematicamente a partir de instituições de memória criadas no primeiro governo Vargas (1930-1945) ressaltando as disputas intelectuais entre projetos identitários divergentes ligados ao patrimônio. Deste modo, neste momento identificamos a querela entre Gustavo Barroso, diretor do Museu Histórico Nacional (MHN) ente 1922 e 1959 e da Inspetoria de Monumentos Nacionais entre 1934 e 1937, e os intelectuais modernistas que se mantiveram na figura de Rodrigo Melo Franco de Andrade na direção do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) entre 1937 a 1967. Deste debate intelectual sobre as concepções e práticas de preservação do patrimônio brasileiro, a cultura material do Ceará vai ser paulatinamente visibilizada a partir do realce dado por Gustavo Barroso deste espaço de memória na imprensa carioca, dos processos de tombamentos realizados entre 1941 e 1954 pelo SPHAN e por outros instrumentos de preservação do patrimônio nacional. Nesse Sentido, entenderemos aqui O Ceará como espaço imagético-discursivo elaborado a partir de uma cartografia da paisagem patrimonial cearense entre 1934 a 1959 pelos sujeitos que se localizavam institucionalmente no MHN e no SPHAN.

 

José Eduardo Agualusa, Mário Pinto de Andrade e Gilberto Freyre nas disputas pela identidade em Angola

Autor: Arthur Fernandes da Costa Duarte

Resumo: O presente trabalho busca analisar as relações entre a produção literária contemporânea do escritor José Eduardo Agualusa (Huambo, Angola, 1960-) e a história da nação angolana, principalmente durante o fim do período de dominação colonial portuguesa e a luta pela libertação, e as ideias de nação e identidade formuladas por Mário Pinto de Andrade (Golungo Alto, Angola, 1928 - Londres, 1990), intelectual angolano e um dos principais nomes da luta de libertação e Gilberto Freyre (Recife, 1900-1987), intelectual brasileiro e importante nome para a história do império colonial português e a formulação do conceito de lusotropicalismo. A partir da análise da produção literária de José Eduardo Agualusa, sobretudo seu romance Estação das Chuvas, publicado em 1996 e que trata da luta, sobretudo intelectual, de libertação em Angola, e dos esforços tanto de Pinto de Andrade quanto de Freyre, o trabalho versa sobre a relação de produção de uma identidade nacional angolana, pautada em diferentes matizes de pensamento e ideologia, e as formas que essas identidades foram construídas e disputadas ao longo da história angolana.



ST - A colonização em Movimento: nativos, colonos e reinóis na expansão do Império (América portuguesa, séc. XVI - XIX)
Auditório D do CCHLA - 14h às 18h
Coordenadores: Carmen Margarida Oliveira Alveal (UFRN)
   Thiago Alves Dias (UFRN)

Deslocamentos indígenas pelos sertões do Rio Grande em tempos de guerra (c. 1640-1720)

Autor: Victor André Costa da Silva

Resumo: A presente comunicação visa discutir os resultados parciais de pesquisa no tocante à relação da incidência da guerra justa com os movimentos territoriais dos índios, nos sertões do Rio Grande, entre os anos de 1640 e 1720. A região do Açu, em especial, vivenciou uma forte experiência de desterritorialização consequente de vários conflitos, principalmente no período compreendido entre 1680 e 1720, parte de uma série de embates que compuseram a chamada Guerra dos Bárbaros. Porém, por meio dos estudos até aqui realizados, observou-se deslocamentos de grupos indígenas em outras áreas do sertão, fosse no sertão de fora ou fosse no sertão de dentro, fossem próximas à Aldeia de Guajiru, Estiva, Catú, Cunhaú ou Apodi, nos períodos de guerras que correspondem os séculos XVII e XVIII. Portanto, além do mapeamento geográfico dessas movimentações oriundas das guerras, objetiva-se trazer à discussão os etnônimos atribuídos a esses grupos, em cada espacialidade do sertão, a época do contato tanto com os holandeses quanto com os portugueses. Por meio de uma análise de fontes de natureza burocrática deverá atentar-se também para o discurso produzido nos documentos, na tentativa de perceber em seus meandros as estratégias utilizadas pelos índios para sobreviver às forças das armas. Desse modo, almeja-se contribuir com a historiografia local do Rio Grande do Norte, ao recuperar parte da história desses índios e preencher algumas lacunas.

 

Missão do Apodi: processo de territorialização na Ribeira do Apodi (1700-1761)

Autora: Ristephany Kelly da Silva Leite

Reumos: Neste trabalho será analisada a constituição da Missão do Apodi (1700), inicialmente administrada por missionários jesuítas, posteriormente assumida pelos frades capuchinhos. Este processo de territorialização empreendido pela Coroa portuguesa, provocou uma reorganização social da Ribeira do Apodi e dos grupos que a habitavam. Procurar-se-á saber quais as etnias que compunham esta missão e quais suas relações com os demais moradores do Apodi, além de perceber os conflitos e alianças entre estes grupos. Far-se-á, também, um breve histórico da Guerra do Açu e seu impacto na Missão do Apodi, pois ela foi constituída para abrigar grupos indígenas que participaram ativamente dos conflitos. Após a morte do padre jesuíta Philippe Bourel, em 1709, o também jesuíta Bonifácio Teixeira ficou responsável pela missão, no entanto, abandonou-a e seguiu com uma tropa de soldados. A causa do abandono da missão foram os constantes conflitos que ocorriam na região. A missão foi assumida pelo frade capuchinho, Frei Próspero de Milão a partir de 1734. Também será analisado como a administração desta missão passou dos missionários jesuítas para os frades capuchinhos e se isto, de alguma forma, impactou o convívio na missão.

 

Bolsas de mandinga no espaço Atlântico: experiências afro religiosas na Capitânia da Bahia 1740-58

Autor: John Lenon de Jesus Ferreira

Resumo:  O presente trabalho pretende dar sua contribuição para a historiografia da diáspora africana e dos sujeitos que dela participaram, dando visibilidade a manutenção e territorialização de suas práticas culturais utilizadas como meio de sobrevivência dentro do sistema escravocrata na Capitania da Bahia do século XVIII. Nesse sentido, tomamos como foco de análise as bolsas de mandinga, que eram pequenos saquinhos atados ao braço ou usados como colar, que conferiam ao seu portador imunidade a danos físicos e proteção contra as coisas diversas, elas funcionavam como objetos de poder. As fontes que serão utilizadas são denuncias produzidas pelo Tribunal do Santo Ofício de Lisboa nas décadas de 1740-50. Buscamos entender como essas expressões foram inseridas no espaço Atlântico, permitindo relações afro-religiosas.

 

A PRÁTICA CRISTÃ NOS TEMPLOS RELIGIOSOS DO TERRITÓRIO DA FREGUESIA DO SERIDÓ (1788-1838)

Autor: Isac Alisson Viana de Medeiros

Resumo: Propõe um estudo acerca do território da Freguesia da Gloriosa Senhora de Santa Ana do Seridó (1788 a 1838), a partir dos templos religiosos – Matriz e capelas – construídos no recorte em questão. Segundo Marcelo Lopes Souza o território compreende-se por um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder. Nesse sentido, abordamos a territorialização da freguesia entendendo a Igreja Católica como agente modelador do espaço. Considera-se que a doutrina cristã se estabelece como um conjunto de práticas que tem como função o controle do território e das pessoas sobre as suas próprias diretrizes e interesses, a partir de estratégias que visam manter a existência e legitimar a fé, assim como a sua reprodução ao longo da história. A construção de templos religiosos tratava-se de uma dessas estratégias que agiam com o intuito de modelar o espaço conquistado com características cristãs que ajudassem a manter o controle e posse das terras sob o poder da Igreja Católica. Já o conceito de Cristianização espacial apropriado de Cláudia Damasceno é excencial para discutir a espacialidade dos prédios religiosos dispostos na Freguesia do Seridó, assim como a contribuição destes para o controle e manutenção do poder da religião católica no território. Nesse sentido, partimos do pressuposto de que uma porção da conquista da Igreja passava pela cristianização do espaço a ser dominado, dando a ele características próprias da sua religião, com o intuito de marcar o seu domínio como também estabelecer um sistema de manutenção de sua fé entre a população que ali residia. Metodologicamente, parte de revisão historiográfica; seleção, coleta e análise quantitativa e qualitativa das fontes paroquiais (livros de batizado, casamento e óbito, que vão de 1788 a 1838 e que juntos somam um total de 4.024 registros) para estabelecimento de perfil das cerimônias ocorridas nos templos religiosos da freguesia, assim como a produção da trajetória do processo histórico de surgimento destes até o momento em que o território estudado se constitui em freguesia. Ainda discute as cerimônias ocorridas nesses templos religiosos, assim como os padres e coadjutores que as celebraram com o intuito de analisar a apropriação do território por meio da tradição cristã. Concluiu-se que a Freguesia do Seridó constituiu-se como um território cristão, tendo na figura dos templos religiosos um elemento de grande relevância para esse processo, já que os mesmos atuaram como centros difusores da religião católica ao passo que a construção destes estava diretamente vinculada ao processo de povoamento das terras do sertão da capitania do Rio Grande do Norte, ao ponto em que o estabelecimento das povoações e sede da Freguesia vinculavam-se a construção desses edifícios na área a ser povoada.

 

CRISTIANIZAÇÃO ESPACIAL E O MATRIMÔNIO DE ESCRAVOS NA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA APRESENTAÇÃO (1727-1760)

Autora: Danielle Bruna Alves Neves

Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar a relação entre a cristianização espacial e a conversão e moralização de escravos por meio do sacramento matrimonial na Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, entre os anos de 1727 a 1760. Na primeira metade do século XVIII, a Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação era um espaço jurisdicional da Igreja Católica que estava localizada no litoral leste da Capitania do Rio Grande, onde atualmente é a região metropolitana de Natal. O conceito de cristianização espacial é baseado no trabalho de Cláudia Fonseca e está relacionado ao processo de territorialização empreendido pela Igreja e pela Coroa Portuguesa visando a transformação das áreas conquistadas na América Lusa em espaços coloniais cristianizados, por meio da construção de edifícios sagrados. Por meio destes prédios, o sacramento do matrimônio poderia ser utilizado como uma forma de manter a população escravizada (negra, indígena e mestiça), assim como a livre, dentro dos padrões estabelecidos por estas instituições. Foram utilizados três livros de registros de casamento da paróquia, totalizando 514 assentos, sendo que 46 eram de uniões de escravos. Por meio da análise dos dados quantitativos dos registros paroquiais, arquivados na Cúria Metropolitana de Natal e digitalizados pelo Laboratório de Experimentação em História Social (LEHS), é possível observar que a Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, além de ter sido um território eclesiástico, era também um espaço onde foram tecidos laços familiares entre a população portuguesa, negra, indígena, mestiça, livre e escrava.

 

Família escrava e relações de compadrio: o estudo das territorialidades escravas na Freguesia de Santana (São José de Mipibu, 1840-1888)

Autora: Clara Maria da Silva

Resumo: A sociedade escravista imperial era caracterizada pela luta constante entre senhores, que queriam extrair a maior quantidade de trabalho possível, e os escravos, que almejavam o máximo de autonomia. Era a partir dessa tensão que as necessidades de trabalho no açúcar, a estabilidade da força de trabalho da plantation e as feições da família escrava emergiam. Apesar de parecer que a família escrava estava sendo uma concessão e reforço do domínio senhorial, ela foi também um espaço de subversão e rebelião, ou seja, de resistência. A constituição de famílias interessava aos escravos, de acordo com Slenes (2011), como parte de uma estratégia de sobrevivência dentro do cativeiro. Propomos, para tal, investigar em nível institucional a construção da territorialidade da Freguesia de Santana, na cidade de São José de Mipibu, no século XIX. Ao investigar a sua criação em 1762, podemos perceber a territorialização desta Freguesia baseado em Raffestin (2008), por índios e brancos, e a desterritorialização e reterritorialização deste mesmo espaço por negros escravizados e por indígenas que foram forçosamente obrigados a ocupar tal território. Através dos registros de batismo e casamento da Freguesia de Santana, pretendemos compreender como se deu a construção das territorialidades escravas dentro deste espaço. A análise de fontes paroquiais e a identificação das famílias escravas, bem como das relações de compadrio entre estas e homens livres e escravos nos fazem perceber a busca por estratégias de sobrevivência dentro do sistema escravista. Procuramos construir uma abordagem histórica, relacional e multidimensional do território e da territorialidade, assim como propõe Saquet (2008), através das relações entre os homens, as redes e as heterogeneidades entre brancos, índios e negros escravizados. A cidade de São José de Mipibu neste período tinha sua economia baseada principalmente na cana de açúcar, contando com engenhos e engenhocas que produziam açúcar, rapadura e cachaça, além de pequenas plantações de alimentos para subsistência da comunidade. Assim, tais plantéis necessitavam de uma significativa mão de obra escrava, principalmente por estar localizada dentro dos limites da Província de São José de Mipibu - o vale do Capió - uma das regiões mais férteis e produtivas da Província do Rio Grande do Norte de acordo com relatos de Presidentes de Província e de memorialistas do século XIX. Diante deste panorama, pretendemos analisar que territorialidades escravas foram construídas no território da Freguesia de Santana no Oitocentos, observando as escolhas e preferências das famílias escravas para com os seus padrinhos espirituais. Daremos ênfase na análise e interpretação nos perfis dos padrinhos escolhidos pelos cativos, pois segundo Rocha (2007) o parentesco espiritual significaria o estabelecimento de alianças entre duas famílias, com o compromisso de proteção e respeito entre pessoas do mesmo status ou de diferentes condições econômicas.


ST - Espaços, Indivíduos, Modernidade
Auditório E do CCHLA - 14h às 18h
Coordenadores: Raimundo Nonato Araújo da Rocha (UFRN)
   Helder do Nascimento Viana (UFRN)
   Durval Muniz de Albuquerque Júnior (UFRN)
   Francisco Firmino Sales Neto (UFRN)

Obs.: De acordo com a coordenação do ST, a apresentação de cada autor deverá ser em torno de 20 minutos, seguindo-se as discussões.

O CORPO FEMININO COMO ESPAÇO DE INSCRIÇÃO DAS MEMÓRIAS DA TORTURA DURANTE A DITADURA MILITAR

Autora: Selly Laryssa da Fonsêca Lins

Resumo: O objetivo deste trabalho é interpretar o corpo enquanto um espaço de inscrição de memórias. Como nessas memórias, mobilizadas por mulheres que foram submetidas a situações de violência por parte do Estado ditatorial a partir de 1964, os seus corpos foram tidos enquanto espaços de exercício do poder moralizante; aspecto que, por sua vez, pretendia reduzir e apagar os seus corpos, falas e gestos. Não somente isso, mas também como em suas memórias percebem, sentem e constroem seus corpos e subjetividades em torno do ser mulher e de elementos atrelados a este. Principalmente levando-se em consideração as experiências traumáticas aos quais foram submetidas durante o período em que estiveram à mercê das práticas de repressão política empreendida pelo regime militar. Para tanto, utilizamos enquanto método de trabalho a análise arqueogenealógica dos discursos, a qual considera que ao fazer história, tudo aquilo que for proferido discursivamente está no patamar do conhecimento. Nessa perspectiva, os corpos aqui retratados são observados enquanto espaços que, entre outros aspectos, permitem o afloramento de memórias; as quais, por sua vez, anuem a construção e reconstrução de subjetividades, imagens e significados dados por mulheres e ex-militantes às diversas circunstâncias de suas vidas. Palavras – chave: Corpo. Espaço. Memória.


Discursos e representações do corpo durante a ditadura militar no Brasil (1968-1979)

Autor: Anderson da Silva Soares

Resumo: O objetivo deste trabalho é discutir as representações e discursos sobre o corpo produzidos durante a ditadura militar no Brasil (1968-1979). Para historicizá-los, analisamos documentos originários dos órgãos de censura e repressão (principalmente os originários do DCDP: Divisão de Censura de Diversões Públicas), cartas de cidadãos comuns endereçadas ao governo e produção bibliográfica sobre o período pesquisado. Por meio deste exame, percebemos o corpo como um locus privilegiado para abordar e compreender a sociedade daquele momento, seus elementos simbólicos e a produção de subjetividades. Buscamos na historicização do corpo, dar visibilidade as forças de poder e formas de saber que substanciavam os discursos e representações que sustentavam a censura e defesa da “moral e dos bons costumes” (ditame que foi recrudescido a partir do AI-5 em 1968) tão fomentada pelo regime ditatorial e pela parcela conservadora e autoritária da sociedade que os apoiava. Localizamos discursos de controle, normatização e categorização dos corpos que eram considerados desviantes, imorais ou anormais. Inclui-se a discussão da dimensão política da prática da tortura, como o exercício de tentativa de controle e máximo poder punitivo aos corpos rebelados.

 

CIDADE COM ROSTO DE MULHER: A TRAJETÓRIA DO MOVIMENTO DE MULHERES/FEMINISTA EM NATAL [1978-1989]

Autora: Janaína Porto Sobreira

Resumo: O trabalho tem como objetivo desenvolver uma análise do que foi o movimento feminista e de mulheres em Natal no período entre 1978 a 1989, período que se justifica pela criação a partir do Centro da Mulher Natalense – CMN, até a criação do Grupo Autônomo de Mulheres – GAM. Considerou-se importante compreender de que forma esses grupos foram se organizando na cidade dentro de um movimento classificado em duas frentes: o de feministas e o de mulheristas. Ambos operacionalizam noções ora próximas, ora distantes na luta de reivindicações por políticas públicas na cidade em pelo menos dois eixos teóricos e metodológicos: busca de equipamentos urbanos nas áreas de habitação, saúde, trabalho, segurança e, de maneira geral, na formulação de projetos que pudessem oferecer suporte na realidade de mulheres em situação de vulnerabilidade; e busca de direitos que contemplassem autonomia das mulheres no campo dos direitos sexuais, reprodutivos, violência doméstica, aborto, maternidade, direitos democráticos, dentre outros. A década de 1980 foi um campo de iniciativas por parte de feministas que vinham das universidades, mas também foi um período marcado por lutas de mulheres nas bases populares. Partindo dos pressupostos do historiador Alessandro Portelli, autor que trabalha com o sentido de valorização de subjetividades pelos quais os sujeitos passaram em determinados períodos, o trabalho se ancorou na metodologia da História Oral como possibilidade de investigação histórica valorizando as narrativas das militantes em Natal. A análise dos objetos foi viabilizada pelo arcabouço documental que contempla: Entrevistas com 10 colaboradoras; obra da socióloga Maria Rizolete Fernandes; estatutos; cartas de princípios; matérias de jornais de circulação na cidade; dados estatísticos retirados do IBGE, IPEA e SEMURB, dentre outras fontes.

 

O cemitério e a cidade: a relação urbana com o lugar dos mortos em Jardim do Seridó na segunda metade do século XX

Autora: Luana Barros de Azevedo

Resumo: Este trabalho propõe discutir sobre cemitério público de Jardim do Seridó, Rio Grande do Norte. Para tanto, houve a necessidade de pensar e discorrer a respeito das teorias higienistas que permearam o século XIX, considerando suas influências sobre a construção de novos espaços da modernidade, sobretudo o espaço da morte como os primeiros cemitérios extramuros no Brasil. Foi delimitando como objeto de pesquisa o cemitério público de Jardim do Seridó, com o intuito de perceber como os caminhos da modernidade adentraram o sertão do Seridó e construíram um novo espaço da morte. Partindo do pressuposto que o cemitério é a parte integrante de toda cidade, uma vez que para se pensar planos de urbanização para a cidade deve-se ter em mente o lugar para onde vão as pessoas que têm seu destino final, o propósito inserido a esse estudo é buscar entender qual a relação entre a cidade dos mortos e a cidade dos vivos. O período analisado compreende as transformações e ampliação do espaço cemiterial, nos anos de 1958 a 1963. O cemitério foi uma construção de 1858, que permanece até os dias de hoje. Por esse motivo, pretende-se discutir a respeito de sua criação, seu espaço na cidade e as construções que deram ao longo do tempo, sobretudo pela população. Dessa forma, a pesquisa foi feita para questionar como a modernidade e as ideias higienistas influenciaram o espaço urbano de Jardim do Seridó por meio da localização do cemitério. Os estudos foram feitos por meio das falas e relatórios dos Presidentes de Província, livros de óbito, leis e decretos municipais. Como reflexão, temos os conceitos de experiência, espaço e lugar, do geógrafo Yi-Fu Tuan (2013), ligados às construções humanas através do tempo. Buscou-se analisar a experiência como responsável por sensações distintas, ligadas à memória e a cultura das pessoas. A relação do cemitério com a cidade é entendida por meio de Michel de Certeau (1998), em uma relação com a forma de fazer os espaços por meio das práticas.


Um Tribunal de leigos: o espaço da justiça na crítica de Lima Barreto sobre o Jurí no Brasil

Autor: Thiago Venícius de Sousa Costa

Resumo: Nesse trabalho pretende-se discutir as percepções de Afonsos Henrique de Lima Barreto (1881-1922) sobre o papel do Tribunal do Júri no Brasil, nos anos inicias da Primeira República (1889-1930). Com isso, será observado as críticas que fez a essa Instituição a partir da experiência que teve enquanto Juiz leigo, que lhe rendeu uma série de reflexões críticas sobre esse espaço em suas contribuições, em artigos e crônicas, a imprensa periódica do Rio de Janeiro. Historicamente o Júri foi percebido como suspeito nos debates e interpretações acerca do que é o direito, o que colocou em dúvida sua legitimidade dado o risco eminente as Instituições de justiça – por seu conhecimento lato, falta de habilidade e manejo com as leis. Lima Barreto em seus registros tem uma leitura contraria, e apresenta as razões para a permanência desse Tribunal popular na promoção da justiça. O que não faz com que poupe críticas a esse ambiente, como o comodismo e intelectualidade baixa de alguns de seus membros, algo que reforça tanto as impressões negativas que se alongaram ao longo do tempo sobre esse local, como mostra a estima barretiana, as intenções que teve em se diferenciar de seus pares. Por fim, essa discussão será feita a partir da análise dos artigos e crônicas de Lima Barreto, reunidos por Valença (2004), e articulado as disposições teóricas de Michel Foucault e François Ost.

 

“EXPERIÊNCIAS DE INVERNO”: A PRÁTICA DO “ROUBO” DA IMAGEM DE SÃO JOSÉ E A SACRALIZAÇÃO DE ESPAÇOS CATÓLICOS EM COMUNIDADES RURAIS DE POMBAL-PB (1960-1980)

Autor: Emerson José Ferreira de Sousa

Resumo: A pesquisa objetiva analisar como a prática do “roubo” de imagem de São José constitui um espaço sagrado em comunidades rurais do município de Pombal, Alto Sertão da Paraíba, entre os anos 1960 e 1980. No campo teórico, a pesquisa dialoga com os conceitos de espaço, memória cultural e identidade a partir dos estudos de Certeau (1998), Assmann (2011) e Segaud (2016). Como metodologia, utiliza-se a História Oral para problematizar as narrativas que constituem a oralidade em torno da manifestação religiosa em questão, que se encontram presentes nas memórias daqueles que vivenciam ou vivenciaram o cotidiano local. Com base neste escopo teórico-metodológico, a pesquisa problematiza como as experiências, significados e interesses deste cotidiano perpassam a constituição de um espaço e de uma dinâmica religiosa a partir do “roubo” da imagem do santo; de que maneira as memórias em torno da prática oferecem suporte para a formação de espaços da recordação nestas comunidades e também será discutido como as manifestações sagradas mediadas pelo “roubo” atuam na sacralização dos espaços, a ponto do formarem identidades religiosas e territorialidades simbólicas nas referidas localidades.

 

A partida do lugar ou o lugar partido: espaço e crise em Portugal a partir da obra de Teixeira de Pascoaes (1877-1928)

Autor: Cid Morais Silveira

Resumo: Esta pesquisa se propõe a analisar a relação entre o poeta e escritor português Teixeira de Pascoaes e os espaços que aparecem em sua obra, articulando-a com uma crise dos lugares experimentada pela sociedade portuguesa entre o fim do século XIX e início do século XX. Importa-nos analisar as dimensões simbólicas – imagens, significados e valores - construídos e agenciados pelo discurso literário em torno da paisagem pascoaesiana: a casa, a montanha, a aldeia, a cidade. Na contramão dos estudos que tendem a reduzir a obra de Pascoaes a uma expressão do Saudosismo, a uma literatura da ausência ou uma filosofia da saudade, desejamos inaugurar uma outra forma de interpretação, pensando a poética do espaço em Pascoaes como resistência a um violento processo de desterritorialização sofrido por Portugal no período destacado. Ao lado de crises sociais, políticas e econômicas, surgiu o que chamamos de crise dos lugares, ou seja, uma quebra de vínculo com a terra, um movimento de afastamento e uma perda de controle das territorialidades individuais e coletivas, provocada pelo avanço da modernidade capitalista e burguesa. Nos situamos dentro do campo da História Cultural, mobilizando diversas fontes de pesquisa, como poesias, romances literários, escritos memorialísticos, prefácios de livros, jornais da época, correspondências, imagens e documentos cartoriais. Nosso recorte vai de 1877 – ano de nascimento de Teixeira de Pascoaes – até 1928 – data de publicação do Livro de Memórias, que marca o investimento de Pascoaes em contar sua história e organizar sua obra. Portanto, cultivamos a hipótese de que a figura de Pascoaes, juntamente com sua geografia poética, representa um desejo de luta frente a esse processo, fazendo justamente o movimento contrário: o sujeito que retorna à aldeia onde nasceu e à casa paterna, em ruínas, para reconstruí-la e lá viver até o resto de sua vida, à beira da montanha.


ST - História e Espacialidades no Mundo Antigo
Auditório A do CCHLA - 14h às 18h
Coordenadores: Márcia Severina Vasques (UFRN)
   Airan dos Santos Borges de Oliveira (UFRN/CERES)

PARA ALÉM DE MEDINET HABU: UMA ANÁLISE DOS DOCUMENTOS ESSENCIAIS PARA O ESTUDO DO REINADO DE RAMESSÉS III

Autor: Arthur Rodrigues Fabrício

Resumo: Ramessés III (1187 – 1157 a.C.) foi o segundo faraó da XX dinastia egípcia, tendo governado durante o período que conhecemos enquanto Reino Novo (1539 – 1077 a.C.). Seu reinado de aproximadamente 30 anos lidou com uma profusão de eventos que caracterizaram este momento da história egípcia enquanto singular: invasões de líbios e povos do mar, o crescimento político e econômico do culto de Âmon, greves de trabalhadores especializados envolvidos nas construções de tumbas e monumentos e uma tentativa de regicídio em meio a um coup d’état gestado no interior de sua própria administração. Uma das fontes mais importantes para abordar esse período, o complexo de culto real de Ramessés III, em Medinet Habu, reconhecidamente um dos grandes últimos templos axiais erigidos na Tebas ocidental, é um lugar de memória e tradição em que se expôs, nas paredes mais externas e acessíveis, as contendas enfrentadas durante esse reinado, as festividades ocorridas e apadrinhadas pelo faraó, bem como registros visuais da contenção de elementos caóticos, apresentando um Ramessés III cumpridor dos designíos divinos e capaz de promover a manutenção de maat naquela sociedade. Reconhecemos a importância do templo enquanto documento histórico essencial para estudar o reinado deste faraó. Outrossim, propomos nesta comunicação uma abordagem mais ampla, que busca reconhecer e historicizar outras fontes relacionadas a este momento, como o Papiro Harris I, o Papiro de Greve de Turim, o Papiro Judicial de Turim e outros documentos adicionais, enquanto possíveis reflexos de um contexto macropolítico mais abrangente, que envolvia o Egito à época. Como desdobramento deste estudo, proporemos uma possível abordagem metodológica que visa a organização destes registros por meio da análise de conteúdo e da confecção de um corpus documental, que possibilitaria a realização de uma crítica às fontes mais completa, atenta e precisa.

 

O Espaço Funerário no Egito Antigo: a Tumba de Nakht (1401-1353 A.E.C), XVIII Dinastia, Novo Império

Autor: Pedro Hugo Canto Núñez

Resumo: A tumba de Nakht (Theban Tomb 52) está situada no sítio arqueológico de Sheik el-Qurna, na Necrópole Tebana, margem ocidental da atual cidade de Luxor. Este complexo funerário pertenceu a Nakht, um astrônomo e sacerdote do deus Âmon e, portanto, membro da elite tebana, que vivera durante a XVIII Dinastia do Egito Antigo, Novo Império (1401 - 1353 A.E.C.). Este personagem construíu sua tumba a partir de uma complexa conjuntura cultural egípcia, que evidencia o papel fundamental do local de enterramento como um meio de perpetuação do status social de uma pessoa. As tumbas de particulares (aqueles membros da elite não pertencentes da família real) apresentam, portanto, pontos de análises importantes para a compreensão da sociedade egípcia. O morto no Egito Antigo necessitava de oferendas em prol de seu nome para que este pudesse viver no Além e, também, para que seu nome fosse mantido na memória do Egito Terreno. A tumba de Nakht (TT 52) nos apresenta uma fonte material (por sua arquitetura e os achados na tumba - fragmentos de mobília e vasilhames), visual (pinturas expostas em suas paredes) e escrita (os hieróglifos que acompanham as cenas pintadas). Portanto, esse espaço funerário deve ser analisado em partes, mas entendendo em todos os momentos da análise que elas fazem parte, ao mesmo tempo, de algo complexo, a tumba. O espaço arquitetônico, o mnemônico, o mítico e o simbólico da tumba formam esses espaços funerários e os ressignificam. Sendo assim, ao longo de nossa apresentação exporemos como será desenvolvida a dissertação que tentará organizar esse espaço e, dessa forma, atualizar a bibliografia voltada para essa tumba, tendo em vista que os três trabalhos existentes sobre a TT 52 são de caráter descritivo (datados de 1917, 1994 e 1997).

 

Reflexões teóricas sobre o espaço funerário em Alexandria, séc. I – II d.C.

Autor: Elian Jerônimo de Castroi Júnior

Resumo: Os sítios de necrópole são férteis campos de investigação histórica, visto que conservam, na maioria das vezes, traços valiosos sobre as sociedades antigas. Este trabalho, traz, a princípio, algumas reflexões sobre o espaço funerário, cuja complexidade está associada aos seus aspectos materiais e à sua dimensão simbólica e prática. Por meio de referenciais teóricos da filosofia, geografia, arquitetura e arqueologia, dispomos de conceitos e ferramentas para compreender os vestígios dos espaços funerários. Em seguida, aplicaremos esse arcabouço teórico para analisar uma tumba construída na cidade de Alexandria, entre os séculos I e II d.C., localizada no sítio atual de Kom el-Shoqafa. No caso específico de Alexandria, as tumbas registraram a interação cultural crescente da cidade. Fundada no século IV a.C., durante o domínio macedônico no Egito, Alexandria apresentou inicialmente uma forte matriz greco-macedônica, mas foi, gradualmente, se apropriando de elementos da religião funerária egípcia, como se observa no último século a.C. A interação cultural no meio funerário se tornou mais intensa no período de dominação romana, a partir do século I d.C. Veremos que a tumba de Kom el-Shoqafa possui indícios da prática ritualística em sua iconografia e arquitetura, indicando também o contato e apropriação da tradição funerária egípcia por cidadãos da elite alexandrina. O presente trabalho corresponde a um recorte da pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História da UFRN, entre os anos 2017-2019.

 

Atravessando o Estige: a construção espacial do Orco no Canto VI da Eneida

Autor: Matheus Breno Pinto da Câmara

Resumo: A Eneida é um poema épico escrito por Virgílio, no século I a.C. Na presente comunicação iremos nos debruçar sobre o canto VI da Eneida, que narra a descida de Eneias até o Mundo Inferior, também nomeado de Orco, para consultar seu pai, Anquises. Ao entrar nesse espaço dos mortos, o troiano vê uma imensidão de almas tentando atravessar o rio Estige, ao qual é protegido e controlado por Caronte. O barqueiro, por sua vez, não permite a passagem das almas que não tiveram os ritos funerários adequados. Desse modo, o ato de atravessar o rio determina a entrada efetiva dos mortos no Orco, podemos perceber, ao longo do Canto, que ao atravessar o Estigo, Eneias se depara com diferentes espaços, que são habitados também por diferentes almas e seres. Nosso objetivo na presente comunicação é identificar estes espaços à luz de três categorias espaciais: o espaço mítico, o imaginário e o simbólico. Para tanto, usamos três autores para embasarmos a análise espacial: Yi-fu Tuan, Marc Augé e Maria Luisa de la fico Guzzo. A comunicação também pretende analisar como Virgílio constrói, a partir dos elementos narrativos, diferentes imagens destes espaços no mundo dos mortos. Nossa hipótese é que o espaço do Orco apresenta diferentes papéis dentro da narrativa, cumprindo tanto funções internas ao épico e a saga de Eneias como externas ao poema. Logo, a jornada de Eneias pelo Mundo Inferior está para além de uma estrutura narrativa, contendo em si objetivos próprios do poeta latino.

 

Os Mestres da Lacônia: Identidades e Paisagem Religiosa na Esparta da Época Arcaica à Helenísta (VIII-III a.C.)

Autor: Cleyton Tavares da Silveira Silva

Resumo: Este trabalho visa analisar a construção de uma Paisagem Religiosa em Esparta, ocorrida entre os séculos VIII e III, por meio da espacialização dos ritos, rituais e cultos de um sistema religioso espartano, buscando estabelecer coesão social através de uma Identidade Religiosa entre os habitantes da Lacônia. Para tanto, lançaremos mão tanto da observação dos registros literários disponíveis, assim como da análise dos artefatos da cultura material – desde pequenos objetos votivos aos conjuntos templários formados por ruínas de templos, santuários divinos e santuários de heróis, tanto em contextos urbanos como em contexto rural.

 

O corpo feminino no espaço trágico ateniense (V a.C.)

Autora: Lucicleide da Silva Araújo

Resumo: O presente trabalho trata da análise sobre o corpo feminino no contexto do teatro grego antigo a partir de personagens e contextos das peças produzidas na pólis grega no século V a.C. O discurso sobre o corpo feminino é acessado na poiesis trágica de Eurípides (480-406 a.C), em peças do gênero trágico, apresentadas nas Dionisíacas Urbanas no espaço ateniense entre 431 e 414 a.C: Medeia , Hécuba e Electra. Busco compreender como o poeta ateniense constrói os espaços de atuação relacionados ao feminino e a expressão do corpo dessas heroínas trágicas. Intento perceber como os corpos dessas personagens femininas são observados, ouvidos, expressados e narrados no logos trágico do poeta ateniense. Para historicização do corpo feminino, e das expressões do feminino na poética euripidiana, exploro dois temas que perpassam essas obras: família e rituais (fúnebres e sacrifício). Priorizo cinco elementos que auxiliam na decodificação e percepção das vozes e presença das mulheres na narrativa trágica: as lamentações ( thrênos), silêncios (siopis), transgressão (hýbris), persuasão (peithó) e movimentos (kinesis). A percepção dessa experiência mítica do feminino, e do corpo feminino, é acessada a partir dos conceitos de Espaço Feminino (Female Space), de Aspasia Skouroumouni Stavrinou (2010), e Espaço Ritual (Ritual Space), de Susan Cole (2004). A experiência de corpo que é atrelado ao feminino nestes espaços, as formas de subjetividade que produzem este corpo, que cria (m) essas identidades sobre este corpo, enquanto experiências subjetivas, entendo que perpassam pela linguagem. Meu propósito é observar como este corpo feminino é apresentado nestes discursos no que diz respeito aos espaços de atuação dessas mulheres.


02 de outubro
ST - Espaços, Indivíduos, Modernidade
Auditório E do CCHLA - 14h às 18h
Coordenadores: Raimundo Nonato Araújo da Rocha (UFRN)
   Helder do Nascimento Viana (UFRN)
   Durval Muniz de Albuquerque Júnior (UFRN)
   Francisco Firmino Sales Neto (UFRN)
   Raimundo Pereira Alencar Arrais (UFRN)

Obs.: De acordo com a coordenação do ST, a apresentação de cada autor deverá ser em torno de 20 minutos, seguindo-se as discussões.


A CONSTRUÇÃO DE JOSÉ AUGUSTO BEZERRA DE MEDEIROS COMO PIONEIRO EDUCACIONAL (1955-1983)

Autor: Renno Allesy Veras de Senna Oliveira

Resumo: Neste trabalho, investigamos a construção de José Augusto Bezerra de Medeiros (1884-1971) como pioneiro educacional. Identificamos que o material principal dessa construção foram as imagens gestadas durante a trajetória do personagem em projetos nacionais de educação, transcorrida entre 1915-1921. Através dessas imagens, ele era apresentado como um impetuoso inimigo do analfabetismo, além de ser apontado como alguém que possuía uma capacidade singular para diagnosticar e remediar os principais problemas da educação brasileira. Quando articuladas, elas formavam o vulto do pioneiro educacional que anteviu o Brasil do progresso e da civilização. Esse processo de articulação foi identificado a partir de três suportes: o discurso realizado pelo personagem quando de sua despedida da vida parlamentar (1955), as homenagens ocorridas no momento de sua morte (1971) e uma biografia sua (1982-1983), de autoria de Nilo Pereira. O trabalho foi dividido em quatro momentos, uma introdução e três partes destinadas a análise de cada um dos suportes. O corpus documental utilizado consiste em discursos parlamentares, recortes de jornais e livros memorialísticos. Quanto ao referencial teórico, utilizamos as ideias de objetivo individual e de rede de funções propostas por Norbert Elias, bem como os conceitos de enquadramento de memória e de memória subterrânea, pensadas por Henry Rousso e Michael Pollack, respectivamente.

 

O ensino de História do Rio Grande do Norte e uma identidade potiguar em conflito (1914-1925)

Autor: Jean-Pierre Macêdo Dantas de Morais

Resumo: O presente trabalho tem o interesse de discutir a construção de uma identidade potiguar a partir da análise do ensino de História do Rio Grande do Norte, implementado de forma oficial em 1908, a partir da criação dos primeiros grupos escolares estaduais, no contexto da Primeira República. O objetivo é compreender como o ensino de história regional foi pensado e previsto nos regimentos escolares, os principais conteúdos a serem abordados, a produção de livros didáticos de história do estado e a própria “ideia de Rio Grande do Norte” que deveria ser incutida na mocidade potiguar. As fontes a serem utilizadas serão a Pedagogia, coluna escrita pelo educador Nestor dos Santos Lima, veiculada no jornal A República, durante a segunda década do século XX. Material importante para compreender como, a partir da perspectiva da “Pedagogia Moderna”, o ensino deveria ser conduzido nas escolas potiguares, em especial o ensino de História; Os Regimentos Internos dos Grupos Escolares e das Escolas Isoladas do Rio Grande do Norte de 1914 e 1925, por sua vez, serão importantes para a análise do que, de fato, foi previsto – ou omitido – para o ensino dessa história regional no contexto da mudança das lideranças políticas no plano do executivo e legislativo estadual. Do ponto de vista conceitual, serão utilizadas a ideia de cultura escolar (Dominique Julia); Disciplina escolar (André Chervel); Nação (Hobsbawm).

 

Descrevendo a Natal do futuro: Manoel Dantas, sua conferência e a construção de uma representação do espaço (Natal, 1909)

Autor: Gabriel Barreto da Silveira Oliveira

Resumo: Em 21 de março de 1909, no salão de honra do Palácio do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Manoel Dantas proferiu uma conferência intitulada “Natal d’aqui a cincoenta annos”, na qual projetou algumas ideias sobre o futuro da capital norte-rio-grandense. Essas projeções demonstravam um otimismo pelo aperfeiçoamento constante da sociedade natalense a partir das ações empreendidas pelo grupo dirigente do Estado, entendido como pessoas que ocupavam as principais posições de poder para intervenção naquele espaço, como os políticos do Partido Republicano e os intelectuais a eles associados. Realizamos uma análise da conferência com base no seu texto, que foi impresso e publicado pela tipografia do jornal “A Republica” ainda naquele ano. Analisamos o caráter específico de suas circunstâncias de realização, tendo sido um evento voltado para um público formado essencialmente por membros daquele grupo dirigente e associados. A partir do conteúdo do texto, também questionamos em que medida aquela cidade imaginária, que Dantas projetou num tempo futuro, se relacionava com aspectos políticos e materiais da Natal daquele momento de realização. O ato de escrever sobre a cidade se configurou, naquele momento, numa maneira de construir significados sobre ela, uma forma de representação do espaço. A Natal do futuro além de ser uma cidade com novos equipamentos urbanos e vias de transporte que a ligavam com o restante do mundo, continuava sendo governada sucessivamente por membros do mesmo grupo. Dessa forma, percebemos que o texto da conferência indica que Dantas buscava pintar um quadro na imaginação dos ouvintes e leitores do que a cidade se tornaria, como também sugeria que seu desenvolvimento estava atrelado à continuidade política. Essa Natal da conferência assentava suas bases no projeto político do grupo dirigente do Estado e o ato de representar a cidade fez parte das ações desse grupo para a construção de um novo espaço social.

 

A Madona das rimas: A memória como espaço de construção de Auta de Souza (1958-1961)

Autor: Jussier Dantas

Resumo: Na obra “Vida Breve de Auta de Souza: 1876-1901”, Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) narra algumas histórias acerca da poetisa, uma delas vivenciada pelo próprio autor (CASCUDO, 2008, p.23), na qual Câmara Cascudo conta que ele, ainda bebê, não teve seu choro apaziguado nem mesmo por sua mãe. Porém, Auta de Souza, ao chegar na residência da família Cascudo, teria auxiliado Dona Ana Maria Cascudo e segurado o pequeno no colo, fazendo o choro mudar de tom, espaçar-se, desaparecer. O que nos chama a atenção nesta história é principalmente a construção de toda uma cena e de uma imagem de Auta de Souza que nos faz remeter às imagens da Virgem Maria - nomeadas de Madona - produzidas por grandes nomes da história da arte mundial como Michelangelo, Rafael Sanzio e Leonardo da Vinci. A construção desta imagem nos apresenta um ideal que se encontra em consonância com a construção de uma memória para Auta de Souza que a representasse como uma pessoa serena, amável, materna, imaculada, uma quase santa, uma madona (Virgem Maria, mãe do menino Jesus) viva - como apresenta o próprio Cascudo na mesma obra ao enunciar que “Auta, Santa Auta é para mim Auta de Souza” (CASCUDO, 2008, p.21). A construção desta memória que será realizada por Câmara Cascudo e pelos irmãos da poetisa, Henrique Castriciano e Eloi da Souza, e perpetuada desde a morte de Auta de Souza no ano de 1901 até os dias de hoje, é motivo de algumas inquietações que impulsionaram o desenvolvimento desta pesquisa, na qual procuramos denotar a idealização da figura de Auta de Souza a partir do processo de apagamento da mulher, assim como o evidente branqueamento realizado nas imagens acerca da poetisa, que apresentam um ponto de partida nas ilustrações produzidas por D. O. Widhopff - desenhista francês - para a segunda edição do Horto (1910).

 

Espaços da modernidade e alteridades em José Lins do Rego

Autor: Juscelino Barros da Silva Filho

Resumo: Buscou-se neste trabalho investigar a construção de alteridades espaciais presentes nos romances: Doidinho (1932), O moleque Ricardo (1935), Usina (1936), composições do romancista paraibano José Lins do Rego (1901 - 1957). Estas relações de alteridade espacial são constituídas a partir de um contraste entre as significações do engenho e seu contraponto, os espaços da modernidade. Também procurou-se relacionar e interpretar tais alteridades espaciais a partir de seu produtor que estava ligado ao saudosismo das primeiras décadas do século XX no Brasil. Problematizou-se de que modo às representações da Usina, Escola e Cidade, espaços das narrativas romanescas delimitadas, participaram da construção da identidade espacial do engenho senhorial dentro de um quadro mais amplo, isto é, fazendo parte de uma relação de alteridade na direção da afirmação da identidade do Engenho no ciclo da cana de açúcar. Trata-se, pois, de um trabalho que investigou tanto as significações espaciais como as relações de alteridade entre as espacialidades Escola, Cidade do recife, Usina Bom Jesus e Engenho Santa Rosa, situando-se no campo das representações e identidades espaciais.

 

Moldando um “artista da terra”: a construção biográfica de Luiz Gonzaga em jornais e revistas (1941-1968)

Autor: Paulo Higor Duarte de Souza

Resumo: O presente trabalho visa discutir sobre como o cantor pernambucano Luiz Gonzaga investiu na construção de uma imagem pública que o situou na condição de porta-voz da região Nordeste no rádio, no período que vai da década de 40 aos anos finais da década de 60, tomando como fonte privilegiada para esta análise os recortes de jornais e revistas da época demarcada. Partindo desse tipo de fonte, parece possível perceber de que forma se construiu, na trajetória de Luiz Gonzaga, uma relação entre o artista e uma comunidade numerosa de migrantes nordestinos que neste momento adensavam os quadros populacionais do Rio de Janeiro. Essa relação construída é de fundamental importância para a compreensão não só do sucesso obtido pelo artista, bem como da série de enunciados que - recorrentes em sua música, em seus discursos e entrevistas e em seu próprio corpo - dão uma determinada configuração discursava, instauram uma forma de ver e dizer o sertão nordestino e mesmo a região em sua pretensa totalidade. O uso de fontes jornalísticas na construção de trajetórias biográficas se mostra como possibilidade fértil, e a partir de recortes de aparições (entrevistas, comentários) do cantor na Revista do Rádio, periódico semanal que circulou no Rio de Janeiro entre 1948 e 1970, pretendo identificar recorrências discursivas e imagéticas ligadas ao Nordeste e presentes no cancioneiro gonzagueano que sejam usadas por ele nos momentos em que ele é chamado a falar de si. Em que pese não ser esta a questão central que norteia meu esforço de pesquisa no mestrado, uma análise dessa natureza possibilita a construção de uma relação entre um indivíduo, uma espacialidade específica e demandas identitárias de um grupo.

 

Urbanização e transformações espaciais em Fortaleza da década de 1990

Autora: Jéssica Martins Guedes de Souza

Resumo: O trabalho tem como intento apresentar as transformações ocorridas na cidade de Fortaleza na década de 1990 pensando nas especificidades das transformações desta década ligada à globalização. O recorte da temática faz parte da discussão que tem como objeto a pichação na capital cearense à época, que cresceu junto com a metropolização da cidade. As fontes utilizadas para entender a dinâmica do crescimento da cidade, palco dos pichadores e de outros agentes, são as colunas de opinião dos periódicos locais. O periódico diário, O povo, também é utilizado para pensar como os pichadores estavam sendo retratados, se estavam, se havia uma insatisfação por parte dos leitores e moradores da cidade. O esforço de pesquisa encaminha-se para tentar entender que espaços eram esses, bem como a produção de outras espacialidades que eram desenvolvidas por diversos sujeitos que compunham àquela capital que se urbanizava de modo diferente ao desenvolvimento de décadas anteriores. A década de 1990 apresentou um modelo de urbanização particular na produção do espaço e das espacialidades, sendo, portanto, salutar apresentar como ocorreram essas transformações e quem foram seus agentes.

 

AS TRANSFORMAÇÕES URBANAS NA CIDADE DE NATAL E OS SEUS EFEITOS NO BAIRRO DAS ROCAS (1940-1950)

Autor: Giovanni Roberto Protásio Bentes Filho

Resumo: Este trabalho objetiva analisar, por meio da imprensa natalense, como as transformações urbanas realizadas no bairro das Rocas afetaram o cotidiano de seus moradores no período da gestão do prefeito Sylvio Piza Pedroza (1946-1950). Desde o início de sua formação, o bairro foi habitado por pescadores, trabalhadores das obras do porto e da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte. A imagem de pobreza e miséria se confundia com a do bairro das Rocas nas páginas dos jornais que circulavam pela cidade no período em exame e nos anteriores. Isso fica evidente quando Luís da Câmara Cascudo afirmou, em 1956, no A República, que a história do bairro das Rocas era “poderosa de vitalidade”, mas que lutava “contra a miséria”. Entretanto, essa imagem se altera no período da gestão Sylvio Pedroza. O jovem prefeito, projetado pelos grupos dirigentes da cidade e pela imprensa como homem moderno e progressista, realizou intensas modificações ou “melhoramentos”, expressão usada com frequência pelos grupos dominantes, na estrutura urbana da cidade, inclusive no bairro das Rocas. Por meio da análise de jornais – A Ordem, O Poti e o A República –, principalmente, e de relatos orais como o de Dona Nazaré de Souza, entrevistada no ano de 1997 por Marcos Silva, se percebe que as transformações urbanas no bairro, durante a gestão do prefeito Sylvio Pedroza, alteraram o modo de vida e o uso dos espaços pelos seus moradores. Isso fica claro pelo registro de acidentes com ônibus, atropelamentos, que antes não tinha; e pelo impedimento de construção de novas casas no bairro que estivessem fora dos padrões estabelecidos, etc. Há uma certa dificuldade em trabalhar com essa temática, pois é difícil encontrar nos jornais a fala direta dessas pessoas que pertencem à classe social menos favorecida. É uma fala intermediada ou silenciada, escondida atrás de fragmentos ou de pequenas reclamações em notas de jornais.



ST - Espaços da Contemporaneidade no Brasil e nas Américas
Auditório D do CCHLA - 14h às 18h
Coordenadores: Henrique Alonso de Albuquerque Rodrigues Pereira (UFRN)
   Sebastião Leal Ferreira Vargas Netto (UFRN)

Ciberespaço, cinema e história indígena: avanços tecnológicos e cibernéticos proporcionando novas formas de autorrepresentação para os indígenas

Autora: Luana Ramalho de Sá Leite

Resumo: Neste trabalho apresentamos uma discussão acerca dos avanços tecnológicos e cibernéticos que proporcionaram novas formas de análises espaciais, como o conceito de ciberespaço apresentado por Margaret Wertheim e o espaço-tempo cibernético de Paul Virilio. Abordamos a utilização do cinema como fonte de pesquisa histórica, mostrando algumas de suas possibilidades e alguns dos principais referenciais teóricos que discutem tal tema. A partir da História Cultural, utilizamos os conceitos de práticas e representações, que são significantes para a reflexão de como o cinema é importante para a construção do imaginário sobre os indígenas e sobre como eles podem se autorrepresentar através de filmes.

 

Da “Mata da Alma” para concretude do conjunto habitacional: um estudo sobre a atuação da COHAB/RN em fins da década de 1970

Autor: Luiz Soares Pessoa Júnior

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo estudar a COHAB/RN pela sua atuação na edificação do conjunto habitacional pirangi enquanto interlocutora de ações e soluções em sua relação com mutuários de conjuntos habitacionais e a Prefeitura de Natal, na segunda metade de 1970. A pesquisa está em fase de execução e é objeto da dissertação do mestrado do pesquisado, realizada através do uso de fontes documentais oficias da entidade, principalmente, atas da diretoria, atas de assembleia geral e atas do conselho central da antecessora FUNDHAP para compreensão do funcionamento interno da empresa devido seu teor mais decisório. Além disso, a pesquisa se propõe a utilizar da história oral para construir uma narrativa das pessoas que colaboraram com a expansão urbana de Natal e para a resolução de problemas dos conjuntos. Apresentamos nesse momento, uma parte vital desse trabalho mais amplo na qual é discutida a participação da COHAB/RN no que tange sua função para o governo do estado e perante as demandas populares. Pressupõe-se que essa companhia tinha como atividade a construção de conjuntos habitacionais, agindo dentro das conformidades estabelecidas pelo Banco Nacional de Habitação, BNH, que lhe emprestava recursos para as edificações que seriam financiadas aos moradores, mutuários. Entretanto, ao analisarmos a documentação oriunda da COHAB/RN temos percebido uma variedade de atuações muito mais amplas. Com uma constante participação desta companhia de habitação em responder demandas populares dos moradores representados pelos centros comunitários dos conjuntos habitacionais em pedidos muito variados entre se. Podemos citar, como solicitações dos cidadãos: a instalação de paradas de ônibus; resolução de problemas entre vizinhos; e até funcionários atuando dentro de postos policiais, postos de saúde e até escolas de 1° grau. Todas essas facetas de sua operação estavam além do que se supunha e eram realizados para conjuntos já entregues com uma boa margem de tempo.


Eliane Potiguara: uma cartografia do pensamento indígena brasileiro

Autora: Mirthis Elizabeth Costa do Nascimento

Resumo: O principal intuito do artigo é realizar uma reflexão analítica a cerca do livro “Metade cara, metade máscara”, escrito pela autora indígena Eliane Potiguara. Partindo deste ponto, as principais questões que ela destaca no decorrer de sua narrativa poética serão mapeadas. Sendo estas: identidade, território, ancestralidade, resistência contra hegemônica, representação e literatura indígena. Pontos importantes para compreender o pensamento indígena contemporâneo. O livro é uma autohistória. Por meio de seus poemas e reflexões sobre os assuntos citados acima, Eliane Potiguara fala sobre luta e autonomia expondo suas percepções e relação com os temas. Trata-se de um retrato de como ela enxerga o mundo e se relaciona com os espaços que ocupa. São questões atuais que estão em evidência e que de acordo com esta intelectual são importantes para os indígenas na contemporaneidade. Além do livro, outros textos da autora e de pensadores indígenas que fazem parte da chamada “literatura dos ressurgidos” serão tomados como fontes históricas. A metodologia empregada se ocupa do estudo destas fontes e da análise de textos que versem sobre a história da literatura indígena no Brasil e sobre a vida e obra de Eliane Potiguara.

 

Florescer e renascer com Ostara: discussões espaciais e de memória sobre a Wicca em Natal e o equinócio de primavera

Autora: Kallyne Fabiane Pequeno de Araújo

Resumo: O culto à natureza é uma das principais características da religião Wicca, conhecida como a bruxaria moderna. Diversos mitos relacionados às mudanças que ocorrem na natureza fazem parte da cosmovisão wiccana, influenciando seus praticantes por meio de rituais e de festivais a celebrarem os ciclos sazonais, conhecido também como a “Roda do Ano”. Essa roda do ano é composta por oito festivais solares, chamados de sabás e se dividem em: Samhain, Yule, Imbolc, Ostara, Beltane, Litha, Lughnasadh e Mabon. A comunidade pagã e wiccana celebram o equinócio de primavera através do sabá Ostara em homenagem a deusa anglo-saxônica Eostre, associada a primavera, a fertilidade e ao renascimento. Este artigo pretende analisar as relações espaciais e de memória que existem entre os wiccanos da cidade de Natal com o Bosque das Mangueiras, um parque arborizado onde ocorre anualmente no mês de setembro a celebração do equinócio de primavera. Como metodologia, será feita uma análise bibliográfica sobre a Wicca e a observação participante no evento Dançando para Florescer, a qual reúne diversos pagãos em busca de conhecimento como uma contribuição para o crescimento espiritual da comunidade pagã natalense, através da realização de palestras, entre outras atividades relacionadas a temática desse sabá. Por isso através da observação do evento e dos discursos que serão interpretados dos wiccanos presentes neste festival, será relevante entender a importância desse espaço e quais as relações que se estabelecem com ele, além de conhecer as memórias que os praticantes da Wicca possuem sobre esse lugar público da cidade. Pois além de ter uma relevância afetiva por esse sabá sempre ser celebrado nesse mesmo ambiente, também tencionamos entender a sua importância sagrada.

 

O DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE EM DISCUSSÃO: REPRESENTAÇÕES DO GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS SOBRE O NORDESTE DO BRASIL (1961-1964)

Autor: Hugo Gonçalves Barbalho

Resumo: No período que se estende de 1961 a 1964 o Nordeste do Brasil foi objeto de grande atenção do governo dos Estados Unidos. Desde serviços de inteligência até agentes diplomáticos e consulares buscaram representar aquilo que singularizaria o Nordeste em seus aspectos políticos, econômicos, sociais e naturais. Tamanha visibilidade pode ser constatada por meio da consulta dos inúmeros relatórios, memorandos e correspondências diplomáticas produzidas na mesma época. Isso não foi fruto, entretanto, de uma simples curiosidade por um espaço que era conhecido internacionalmente no início da década de 1960 como a área mais pobre do hemisfério ocidental. O interesse do governo norte-americano pelo Nordeste esteve intrinsecamente associado a conjuntura iniciada com a Revolução Cubana de 1959. Esse evento possibilitou que novas formas de intervenção fossem planejadas pelos Estados Unidos para conter aquilo que acreditavam ser uma expansão do comunismo sobre áreas estrangeiras consideradas atrasadas, onde predominaria economias agrárias com níveis elevados de pobreza. Diante disso, a política externa norte-americana sofreu mudanças substanciais quando John Fitzgerald Kennedy foi empossado presidente dos Estados Unidos em janeiro de 1961. Sua administração buscou efetivar acordos diplomáticos voltados para a instituição de reformas de longo prazo. Nesse sentido, o principal objetivo desse trabalho consiste em demonstrar como o desenvolvimento do Nordeste foi discutido por algumas das principais personagens ligadas a política externa norte-americana no período acima mencionado.

 

O mosaico zapatista e a concepção do espaço fragmentado

Autor: Rodrigo de Morais Guerra

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar o Movimento Zapatista enquanto movimento múltiplo, diverso e complexo, de modo que, compreender a sua totalidade perpassa pela compreensão de suas mais diversas facetas. Isto posto, interpretamos as diferentes manifestações espaciais zapatistas aplicando a metáfora do mosaico: as espacialidades contidas no movimento vistas como fragmentos componentes de um amplo mosaico e que oferecem possibilidades de, ao serem inquiridas, suscitar novas descobertas que contribuam para a compreensão da totalidade do movimento, ou seja, para a conformação da imagem do mosaico como um todo. As espacialidades zapatistas, portanto, tais como fragmentos componentes de um amplo mosaico, reivindicam, cada uma, suas próprias fontes, métodos e diálogos necessários para esclarecer suas proposições para a História.

 

PAGANISMO PIAGA: o neopaganismo em Teresina e a idealização da vila pagã (2007-2016)

Autor: Antônio Emanuel Batista de Sousa

Resumo: Este trabalho objetiva, primeiramente, discutir sobre o advento do neopaganismo enquanto uma vertente religiosa emergente no contexto do movimento contracultural, principiado na segunda metade do século XX. Tomando como partida esse debate, analisamos, especificamente, o “Paganismo Piaga” no município de Teresina-PI, entre os anos de 2007 e 2016. Nesse sentido, através das observações tecidas sobre o arcabouço bibliográfico e discursivo dessa religiosidade, pretendemos discorrer a respeito dos cruzamentos de pontos de vista entre crenças estrangeiras e dos saberes locais para a idealização de uma religiosidade e, por seguinte, da vila pagã enquanto um espaço sagrado. Para tanto, apoiamos essa discussão na perspectiva de “histórias cruzadas”, embasada pelos autores Michael Werner e Benédicte Zimmermann (2003), sob diferentes fontes, como relato oral, fragmentos de jornal, tabela e escritura literária.

 

QUILOMBO LAGOAS-PI: relações entre o status de “comunidade remanescente quilombola” e a territorialização (2009-2010)

Autor: Emanoel Jardel Alves Oliveira

Resumo: Este artigo discute sobre a historiografia acerca das perspectivas relativas ao conceito de quilombo, bem como a respeito da ressemantização do termo e as suas implicações para os remanescentes das comunidades quilombolas na contemporaneidade. Nesse sentido, a partir do “Relatório técnico de caracterização ocupacional, fundiário e agroambiental do território quilombola de Lagoas”, realizamos uma discussão voltada para esta comunidade, que fica localizada no território da Serra da Capivara no Piauí, de modo que evidenciamos as relações existentes entre o status de “remanescentes das comunidades quilombolas” e a sua territorialização, que por sua vez ocorreu durante os anos de 2009 e 2010.

 

Um Império decadente? A ressignificação do espaço sagrado da Igreja Palmariana na América do Sul (2000-2018)

Autor: Pedro Luiz Câmara Dantas

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma pesquisa histórica e reflexiva acerca da decadência do número de fiéis da Igreja Palmariana na América do Sul, particularmente no Brasil, entre os anos 2000 e 2018. A Igreja Palmariana é uma dissidência do Catolicismo Romano fundada em 6 de agosto de 1978 pelo bispo espanhol Clemente Domínguez y Gómez, que se proclamou papa. A partir de sua criação, esta religião se espalhou por vários países do mundo através de capelas que reuniam grupos de fiéis periodicamente. No Brasil, até meados de 2001, existiam nove capelas palmarianas, mas o número de seguidores desta Igreja diminiu drasticamente daquele ano até dezembro de 2018. Com a abertura da Igreja Palmariana ao mundo virtual através de um site e de outros perfis em redes sociais, pode-se constatar que a diminuição na quatidade de membros não se deu apenas no Brasil, mas em praticamente todos os países sulamericanos onde a mesma fazia-se presente, inclusive provocando a extinção de muitas de suas capelas. Nessa linha de raciocínio, tendo como base o espaço sagrado nos discursos da Igreja Palmariana, se observará como foi que esta religião reagiu à perda de fiéis, e como isto surtiu efeito em suas posturas e nos discursos propagados aos membros remanescentes a partir da observação dessa redução. Como fontes, além de alguns textos oficiais da Igreja Palmariana, também serão considerados alguns relatos de ex-bispos que se desvincularam dela a patir do ano 2000, e os documentos publicadas pelas plataformas virtuais da mesma Igreja até o final de 2018.