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A avaliação neuropsicológica tem como objetivo estudar as relações entre a atividade cerebral, cognição e o comportamento (Lezak, Howieson & Loring, 2004). Essa avaliação se baseia na análise funcional dos processos cognitivos (linguagem, memória, percepção, visocontrução, funções executivas) e na compreensão multidimensional dos prejuízos cognitivos, portanto, é de extrema importância no campo pediátrico. Assim, compreende-se que as alterações cognitivas, comportamentais e emocionais variam de acordo com a natureza, extensão e localização da lesão cerebral, bem como são influenciadas pelas variáveis: idade, gênero, condições físicas e contexto psicossocial de desenvolvimento (Lezak e colaboradores, 2004). O desenvolvimento infantil é o resultado da interação entre fatores genéticos, biológicos e ambientais. Os fatores biológicos podem influenciar o desenvolvimento a curto e longo prazo, uma vez que interferem na formação e maturação dos diversos sistemas desde a fase gestacional. Por outro lado, intervenções realizadas no ambiente domiciliar e escolar em cada fase do ciclo de vida da criança poderão definir diferentes competências por toda sua vida. Vale ressaltar que o desenvolvimento infantil é acompanhado por organizações nacionais e internacionais e traduz o índice de desenvolvimento do país, bem como a educação, as condições sanitárias e o nível de atenção à saúde. Em 2002, no DSM-IV-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais), a categoria transtornos invasivos do desenvolvimento passou a ser denominada de transtornos globais do desenvolvimento (TGD). A partir do DSM-V, o TGD que antes era composto por transtornos específicos além do autismo, transtornos como de Rett, Desintegrativo da Infância, Asperger e Transtorno Invasivo do Desenvolvimento sem outras especificações, deixa de usar essa classificação e tudo passa a ser considerado como transtorno do Espectro Autista. Através da neuropsicologia é possibilitado saber quais as áreas cerebrais são responsáveis pelos componentes executivos (habilidades cognitivas necessárias para o controle e regulação de pensamentos, emoções e comportamentos) explicando-nos estratégias clínicas e educativas que tem por objetivo principal, proporcionar ao sujeito com o transtorno do espectro do autismo, aprendizagens para o desenvolvimento da sua própria autonomia, algumas estratégias que possam contribuir para a aquisição e desenvolvimento de relações sociais, emocionais, comportamentais e comunicacionais, podendo ajudar na promoção de um desenvolvimento harmonioso e mais equilibrado destes sujeitos (CAVACO, 2015 e MORTON 2013-2015). A avaliação neuropsicológica auxilia na constatação e também serve para descartar a suspeita. Pois uma vez que o diagnóstico de autismo tenha sido confirmado ou desconfirmado, os profissionais precisam determinar se algum encaminhamento ainda se faz necessário. Isso inclui encaminhamentos para diversos profissionais (SILVA e MULICK, 2009). Segundo Cavaco (2015), como ciência a neuropsicologia vem se destacando no que diz respeito ao transtorno do espectro autista, pelas evidências apresentadas tanto nos prejuízos cognitivos manifestados como no que diz respeito às competências e funções preservadas na criança com o transtorno. Através da avaliação neuropsicológica pode-se perceber quais as funções e as disfunções desenvolvidas pelo indivíduo com autismo, permitindo uma intervenção e tratamento nos mais diversos contextos da criança. Dentre os distúrbios neuropsiquiátricos mais encontrados na infância, pode-se destacar o autismo e o transtorno de deficit de atenção/ hiperatividade. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é, entre os distúrbios do desenvolvimento, um dos diagnósticos mais realizados na atualidade, com uma alta prevalência na população infantil e uma das principais causas de procura por atendimentos em ambulatórios de saúde mental por parte de crianças e adolescentes. A prevalência do TDAH no Brasil é alta, sendo que em crianças em idade escolar, a prevalência média varia de 5 a 18%, podendo a mesma variar conforme a região do país e a forma como a avaliação diagnóstica é realizada, além da faixa etária avaliada (Guardiola, Fuchs, & Rotta, 2000; Possa, Spanemberg, & Guardiola, 2005; Costa, Maia Filho, & Gomes, 2009; Charach, 2010; Fontana, et al., 2007). Outro dado é que uma das principais causas de procura de atendimento em ambulatórios de saúde mental, por parte de crianças e adolescentes, ocorre por dificuldades que representam a sintomatologia do TDAH (Faraone, et al., 2003). Além desses, uma causa comum da busca pelo neurologista infantil são as síndromes epiléticas. Uma crise epilética é a ocorrência transitória de sinais e/ou sintomas secundários a atividade neuronal cerebral anormal excessiva ou síncrona. A convulsão, por sua vez, ocorre em detrimento de alteração neuronal que leve a manifestações motoras. Na população geral, a incidência de epilepsia na infância é bastante variável, com taxas entre 20 e 375 casos/100 mil habitantes, com níveis mais elevados no primeiro ano de vida, havendo um decréscimo com o passar dos anos da infância até a adolescência. As síndromes epilépticas iniciadas na infância podem provocar sequelas neurológicas graves, dependendo de sua evolução clínica. Trabalhos recentes têm evidenciado que mesmo os casos com evolução favorável expõem o paciente a sequelas sociais, quando se consideram anos de escolaridade e capacitações profissional e pessoal. Os principais fatores correlacionados com pior prognóstico das epilepsias iniciadas na infância são início precoce das crises, anormalidades ao exame neurológico, crises parciais complexas ou crises com generalização secundária, presença de espasmos infantis, etiologia sintomática, elevada frequência de crises desde o início do quadro, história de EME e não controle das crises após o início do tratamento com o primeiro fármaco antiepiléptico (FAE). Ainda, aproximadamente 40% dos casos que não apresentam controle das crises no primeiro ano de tratamento não entram em remissão a longo prazo. Além dessas, inúmeras outras queixas de alterações neurocognitivas são levadas aos médicos, psicólogos e psicopedagogos diariamente. Nesse sentido, a Liga Acadêmica de Pediatria com a Liga Acadêmica de Neuropsiquiatria, ambas da UFRN, planejam organizar um evento científico, aberto para toda a população, no intuito de abranger os conhecimentos relacionados a essas alterações, bem como atentar a população sobre a necessidade de diagnosticar as necessidades dessas crianças, para que os défcits sejam compensados e as patologias não causem grandes prejuízos no desenvolvimento neuropsicomotor, escolar e social das crianças.