Helena Nader destaca crescimento da UFRN desde a primeira SBPC

12/12/2019

José de Paiva Rebouças

Como era Natal 21 anos atrás? Talvez seja difícil lembrar, mas certamente era bem diferente da cidade que vemos hoje, principalmente no aspecto urbano e visual. Viadutos, pontes, frotas imensas. Se muita coisa mudou na capital, imagina o que não aconteceu de transformação na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desde que sediou, em 1998, a sua primeira reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), cujo tema foi Ciência, Educação e Investimento. Essa é a visão de Helena Bonciani Nader, doutora honoris causa da UFRN e ex-presidente da SBPC de 2011 a 2017.

Biomédica e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Nader veio participar das bancas de progressão de professores do Departamento de Bioquímica que pleiteiam ascender a professores titulares. Mas não está aqui apenas pelo currículo, ela tem uma grande história no Departamento, sendo uma das responsáveis por sua transformação desde o começo de sua história. Helena esteve aqui em 2008 na qualidade de vice-presidente da SBPC, acompanhando a reunião anual que, na ocasião, comemorava os 50 anos da SBPC.

Para a cientista, é uma celebração para a UFRN receber, em 2020, pela terceira vez, esse encontro que reúne os maiores nomes da ciência brasileira, quando várias instituições nunca conseguiram realizá-lo. “A evolução da UFRN em três décadas é visível. Passou de uma universidade pequena do Nordeste para uma referência nacional e internacional. Acho que o timing é muito importante porque nós estamos em uma fase em que o governo quer desacreditar as universidades públicas”, reforça a pesquisadora.

Helena, que também é vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e copresidente da Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas, na sigla em inglês), diz ficar arrepiada ao falar dos avanços da UFRN. “A Física daqui é referência mundial. O [Instituto] Metrópole Digital é outra referência. A parte de petróleo e óleo, a Medicina Tropical. O que eu vejo [na UFRN] é um cartão de visita. Natal só se desenvolveu por causa da educação e ciência aqui desenvolvidas”, apontou.

Em 2010, a UFRN foi palco de um debate forte e muito significativo para o Brasil. Ao sediar a 62ª Reunião Anual da SBPC, colocou na mesa o tema Ciências do mar, herança para o futuro. Segundo Helena Nader, isso provocou uma revolução, porque, apesar de ter alguns Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) atuando em várias áreas, nenhum deles era voltado para o mar brasileiro, apesar de o país ter mais de 7 mil quilômetros de costa marítima. É bem verdade que até hoje esse INCT não saiu, mas depois da SBPC de Natal o governo chegou a discutir uma chamada pública nesse sentido e o tema continua vivo. “O Brasil é gigante, temos uma costa de mar tropical única, se você calcular a área azul, é equivalente ao tamanho da Amazônia”, reforça Nader.

Para Helena Nader, no ano que vem a UFRN terá, mais uma vez, a oportunidade de mostrar o seu tamanho para o Brasil. Ela lembra que a SBPC é o maior evento científico da América Latina, porque não há outra sociedade igual nesta região no mundo. “Outras sociedades foram criadas nos moldes da SBPC em todos os países da América Latina, mas muitas delas desapareceram. A SBPC é única”, pontua.

A pesquisadora lembrou também que a primeira reunião da SBPC aconteceu em 1948 e, desde então, nunca deixou de acontecer, inclusive no período da ditadura militar. “A SBPC foi criada para fazer algo diferente do que as outras sociedades específicas fazem. Ela reúne, em uma única mesa-redonda, especialistas de diferentes áreas para discutir temas. Ela planeja o que vai ser e chama atenção, além de trazer o que tem de ciência de ponta no país”, completa.

SBPC 2020

72ª Reunião Anual da SBPC acontecerá entre os dias 12 e 18 de julho, na UFRN, em Natal. Com tema Ciência, Educação e Desenvolvimento Sustentável para o Século 21, o encontro será um diálogo com as novas gerações, convidadas a pensar no futuro a partir do presente. O maior evento científico da América Latina oferta programação gratuita e aberta ao público, que tem acesso a palestras, conferências, rodas de conversa, minicursos, oficinas, entre outras atividades que abrangem todas as áreas do conhecimento.